segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Perto do fogo

Fico a olhar o lume
Apenas pelo prazer de contemplar as chamas
De ver subir aquelas labaredas encarnadas
E sinto uma vontade de poder respirar o fogo
Para sentir como pode purificar o seu calor
E derreter o gelo que me aflige, por dentro

Fico, apenas, a olhar aquele lume
Pelo conforto de estar perto de uma fogueira, apenas
Só para ver como o fumo não resiste a elevar-se no ar
E as brasas se avivam com cada gesto de vento vivo
Para que a magia rubra não se torne cinza morta assim
E o negro, por um pouco, só um pouco, ilumina-se

Fico, só mais um pouco, a olhar o lume
Somente para ver o carvão que aos poucos se vai
Para tornar ao pó, em tom de promessa póstuma
E não deixar para trás restos de uma vida sólida
Para que tudo seja luz e cheiro, e calor, e som
E que de tanto querer dar, queima se for tocado

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Amanhecer

Já não estou mais sóbrio ao sentir
Sem olhos que me vejam dormir
Ando, não paro, irei eu, assim cair?

Espinhos enviesados, retorcidos e virados, tortos
Que se contorcem para me entrar pele adentro
Como raízes de uma dor mais velha que a escarpa
Regados a sangue e magoa, veneno cristalino, puro
Crescem espinhos por meus ossos dentro, tão duros

E são meus, esses dentes que os prendem quietos
Que seguram esses pregos, que se cravam negros
É a força da raiva mais profunda a todo o sofrer
Que mantém à superfície o alento de não perder
Que de farto, quase que quero matar a própria morte
Para não mais a ouvir dizer “Tem mesmo que ser…”

Olho então… mas já não quero mais ver… não…
Que todos os aguilhões do meu tormento se vão
Não passaram de grãos de terra e chuva nos olhos
Olho… mas não quero ter de ver… por favor, não…
Que as vivas dores eram apenas o simples, viver…
E que tudo, mas tudo, não passou de uma ilusão…

Magoado pelo mistério, chorei…
Revoltado com as respostas, gritei…
Mas de olhos abertos… desvendei… que só e apenas,
Nada sei…


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Voltei...

sábado, 6 de dezembro de 2008

"Viso quem acaba de entrar... o minimo que se pode dizer de mim é que penso matar-me e levar alguem comigo"

Rodrigo Guedes de Carvalho in Canário

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A sinceridade pode assustar...