terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Valete de espadas

Lançadas cartas sobre o verde da mesa, e
Em tom de tiros de bombarda, arma e morte
Uma-a-uma, tal como as balas, ditam a sorte
Ao lado do rei, na corte, está o mártir...
Cavaleiro, vingador magno!

Os motivos de procurar o passado, que
Encontro no acto de egoísta de partir
Fez de mim um bastardo quase poeta
Que nunca há-de atingir a ansiada meta
Lançada seta, ao peito...
Ou espada, rainha da vontade!

Pois sou protector, lenda, guerreiro, temor!
Quero crer que esta dor seja apenas metade,
Pois cortei em dois a fonte do meu amor...
...
O céu perdeu então...toda a cor...
...
Hoje eu sou como carta perdida
De um jogo acabado, na minha ausência...

Uma valete de Espadas marcado a ferro...

Que pediu para ser rejeitado...
No doloroso jogo do amor...

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A morte do rouxinol

Assobiava, só

Quando uma lágrima…

Me interrompeu os lábios



Fico aqui, somente

Pensando,

Não no que foi,

Nem o que é

Mas…

O que não poderá ser…



Calou-se a melodia,

Que trazia no sopro

Estou… então, calado



Amanha, o dia será outro…

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Confissão da Lua

Na treva arcaica do médio tempo
Nocturno…

Em que a divindade se manifesta
No homem, na sua triste condição…

Subsiste um exíguo deus pagão
Que talha com sortilégios de luz
No olhar do ser singelo, tirania
A ambição…

A soberba soberania…

Sob o clarão nocturno e esférico
D’um astro fadado ao perpetuo ciclo
Carregado do desejo oculto, amante
Fixam-se, mutuamente, bocas sedentas
Do tacto ardente, do afecto quente
Na paixão… que mente…

Na completa loucura…

Incendeia-se o querer, mais que tudo
O grito torna-se mudo, olhar, ver, tudo!


Nada…


Carvão escravo da mão insana
Pinta, pinta… pinta, PINTA!!!

Risca-me essa parede banhada da claridade
Que se apague o alvo tom da mocidade
Pois apenas sonhei ter sonhado com ela
Nos meus braços… toda… ela…
E afinal, nem a tive, nem a perdi
Foi apenas um vulto, nem sei, se senti…

Era a Lua, na minha parede… era! ERA!
Que eu queria escrever, com meus dedos
Toda ela! Essa lua branca, como a pele
DELA!



Mas…
Só queria…
Confessar, baixinho… meus tristes medos…

Acabei então… aqui, caído neste chão…

Com os moveis, a serem como penedos…

Esperando que a Lua morra,
Para que possa dormir, aqui
Neste quarto sem cortinas…
Onde espero, sentado, por ti…

sábado, 31 de outubro de 2009

Neo Morpho Génesis

Um inicio pérfido da afinidade factual
Contígua informação que não se incorpora
E uma mente em constante negação
À realidade que se funde com o sonho
Sobre a determinação mais marcada

Abandona-se a divina quimera…

Nasce então o pragmatismo desistente
Sob a tutela de uma vida contundente
Morre a esperança, a convicção, a mente

Dizendo, “quem, a mim dera”…

Reformulando o teorema, a arcada
Restaurando o fulcro, talvez, suponho
Coloco pedras angulares em admiração
Para que passe sob o olhar, que chora
O conhecimento, da condição, actual

E o ser renasce… intelectual, espiritualmente
Reedificando-se, constante, permanentemente
Para que sobreviva, pelo menos, parcialmente
O pequeno pedaço, que nos deu vida, a mente!

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Os mistérios da vendeta cósmica

Todo o acto se encontra com contradição
Entrelaçada sobre as vinhas da raiva
Flores de sangue, reflectida a gloria
Nasce ódio sobre a mais pura razão

Tomada por vitória, cruel e fria devastação
Negras velas do barco, carregadas de injuria
Afunda-se então, esperança, a compreensão…
Resta apenas, fumo, filosofia, planos, fúria!

E de gerações em comunhão, ódio fraterno
Crescem raízes sobre os dedos e o escrínio
Matura ódio e planos sobre o fatal desígnio
Guardados nos segredos da dor, do eterno

Chega então o fadado instante, da restituição
Justiça poética levada a cargo por Nemesis
Desconhecida figura, da morte encarnação
Que faz olhar no espelho da vaidade, sublime
O tolo que se perde dentro do próprio olhar

Que queime a vista, para não mais contemplar

E que jamais encontre paz, sobre seu crime…

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A pancada que me deu

Recebi uma pancada
Tão forte, tão profunda, potente!
Que da pancada que levei
Fiquei com uma pancada persistente

É minha, esta pancada e só minha
Única, singular, intransmissível
Impossível de ser copiada
Não, nem por outra pancada
Por parecida que seja, a pancadinha

E não foi algo às três pancadas
A pancada que sobre mim se abateu
Foi só uma, como se de água fosse
Que de pancada caiu todo o céu

E que pancada foi essa…
Unida num tecido sem fim, o eu…
Toda a luz, se apagou no infortúnio…
Tudo a pancada varreu…

De tão forte a bordoada
Que teu coração deu no meu
Hoje tenho uma pancada…
É simplesmente…
Algo que carrego… que me deu…

segunda-feira, 7 de setembro de 2009





Já disponivel ao publico, finalmente, Obscuramente.

Neste Link:
http://www.corposeditora.com/site/mostra_obra.asp?idcoleccao=29&idobra=497


Obrigado a quem acreditou que era possivel.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Sem fuga

Planos desesperados são o recurso do limite
Encontrando-me no limiar do sono profundo
Noutro mundo, segundo considerações que dite
Digo, não por dizer, não, não neste mundo

Saltar então, para a morte ou ficar, morrer
Sobre o meu próprio pé, rezando, sem fé

Sentir que a vida escorrer entre os dedos
Com ou sem visões de uma existência, feliz
Quem o diz?

O vento leva-me contrariado…

Nas pontas dos dedos
Em bicos de pés
Perco equilíbrio
Caio…

Não vejo o fundo, colorido ou pintado!
Apenas sigo o vento cortante do precipício
Escuridão adentro a toda a brida, hospício!

Abro os braços
Estico as pernas

Encaro o vazio
E acelero ainda mais

Na direcção vertical
Perco o medo

Cerro os olhos e
Perco-me na queda!
.…..
Acordo… apenas um sonho…

Apenas, SOS.


______________________________
Ciclo de poemas dedicados ao DPSM

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Obliterações mudas

Quando se tenta por fé ou vontade
Destruir à menor réstia todo o passado
Seja por meio de memória, papel queimado
Ou cabalmente, por promessa de saudade

Escutar as direcções de um futuro, oculto

Encontro nos métodos do cerrado silêncio
O conforto da retórica plana, dura e insípida
A cortesia é arma para a lacuna de sentimento
Mas se o faço, desejo evitar, a verdade despida

Factos contundentes, sem fuga obvia

Corto então pedaços vivos do meu mero ego
Que escondo por entre os canaviais do rio
Detrás do rochedo, na água morta, no frio
Todos os momentos, da vergonha, se fui cego

Lamento apenas, não os poder dourar, aos pedaços

Para os poder dar, ou vender…

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Desafio ao Soneto

A suprema insolência consiste tão somente do simples acto de usurpação das capacidades de uma classe etária que se torna ultrapassada.
De certo modo, as verdades de um qualquer ancião passam a ser mais claras nas palavras de um infante prodigioso. Por vezes infame prodígio preso na infância de um valor numérico, que o prende a um protocolo de respeito.
Mas se encontradas as linhas mais profundas das mãos e analisado o lavor que por elas passou, o tempo torna-se o superlativo da experiencia.
Dá-se então a revolução do pressuposto em inconstância imediata, o valor premeditado do acto inconsciente está inteiramente no desafio da classe que perde autoridade para os indigentes que mais repudia, os que os impulsionam para diante.
Entre os seguidores de Petarca, que apresentam propostas de parametrização do pensamento, que se predispõe constantemente à raiz da liberdade, existe o saudosismo do que nunca conheceram, mas mesmo assim, publicam.
Aristocles apenas quis parecer maior, adoptou até de si outro titulo e fez-se senhor de matérias que lhe escapavam à compreensão, tivesse negado o nome Platão que másculo lhe pareceu, para ser ninguém, como Diógenes, e hoje, dizer que algo é Platónico, não seria sinonimo requintado de uma recato da mentira e da ocultação, seria um valor da aceitação da necessidade humana de estabelecer ligações.
Nas linhas Cartesianas encontram-se apenas tentações ao facilitismo de uma divisão em elementos mais puros… que pensamento ridiculamente débil, seremos assim tão passíveis de classificação matemática?
Exemplos perfeitos da tentativa geométrica de triangular a posição do inalcançável, a simples compreensão da essência mestra… que apesar de não poder se descrita com palavras em numero finito, aí termina toda a relação com a numérica. Interrogo-me, quase numa inocência satírica, da necessidade da rima, do verso, da alegoria… da técnica… qual a utilidade da racionalização da emoção em estado cru…
A resposta chega-me pela tradição…


Da minha idade, sei apenas que, roubo a cada dia a força de uma geração que veio para morrer. Preparo-me então para um assalto final à minha composição teórica pelos filhos da minha palavra. Um dia, dar-se-á.

Que as ideias vivam através da morte do artista… e se o artista está morto, que fique enterrado, pois assim será lembrado… se reviver, será apenas mais um…

terça-feira, 28 de julho de 2009

Os Meandros Divagantes do Intelecto

Nem mesmo o sopro sobre a serpente
Ou o rio bravo da audácia, da palavra sem tema
Seguram no menor esforço de, sentido, teorema
O simplismo do nome, Alma, somente


Protótipos do pensamento, fumos, vagueiam
Sem aroma ou corpórea essência, louca
Que exalando sentença, fria, dura, rouca
Existem símbolos que se escapam, meneiam

Possui-se toda a carne, pela força de um grito
Encarna-se todo o vocábulo, profundo interno
Escava-se no ser a razão da procura, o inferno

E quando, então cessa a busca,
Termina o rio na negra barcaça
A prata é pouca, para a carcaça
Só uma peça, baça, de luz fusca…

Acaba-se todo o mito… alma e espírito…

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Questão Anónima

A mente por si só desenvolve gestos estranhos
Que se movem entre os centros oculares, negros
Serenamente…

Da íris para os dedos magros, das mãos mais manchadas
Que na escrita mais complexa mentem descaradamente
Sobre as visões mais anormais, dando-lhe uma cor
Qualquer…

E a verdade… é…

Que tão pura e simplesmente
A morte por vezes… clarifica todos os horizontes…

Morre o erro, a razão, a duvida… a humana transição!

Viagem simplista dos comportamentos, enquanto
Tudo se impele de forma impulsiva adiante da razão

E…

Entre todas as razões, arrasta-se a ilusão…

terça-feira, 2 de junho de 2009

Crónicas do fumo

Arde mais um cigarro...
Mas o fumo que se esvai, leve, vão, não leva só o ar...

A minha alma voa, corpo a dentro, sopro a fora, quente…
Do mesmo e sensual modo em que as ondas se meneiam...
Cinza que se agarra à chama numa crepitante inconstância…
Sem força... sem esforço... sem peso... ardo lenta e passivamente...
E o meu alento sobe... e em “nada” se torna, de novo, talvez...
Sendo imagem, sendo cheiro e sabor apenas por breve circunstancia...

Sendo vapor que desaparece e deixa as cinzas do meu corpo...
Sendo apenas um intervalo tóxico, um fumo inebriante,

Por um instante, breve... a definição encontra-se…

Perturbante…

Na conclusão… de que nada sou…

Nada mais que...

O próprio cigarro entre meus dedos…

sábado, 23 de maio de 2009



Para breve... espero eu...

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Nunca me mintas

Se um dia a verdade te trair as palavras
As mais simples que os teus lábios soltarem
Pelo fundamento mais imerso na escuridão…
Por medo
Por mera distracção
Falta da minha atenção… que sei eu!

Mesmo que por vezes penses que foram tolos sonhos
Tão só e apenas…
Diz-me…
Conta-me…
Revela tudo…

Não suporto os segredos ancorados nas tuas pupilas
Espreitando… no negro centro da íris…

Se não souberes mais como falar… GRITA!!!

Como as guitarras eléctricas na minha mente!
Como os tiros escondidos na batida da musica!
Como uma porta que bate ao fechar nas costas!

Se me assustares… acordarei…
Se me magoares… aprenderei…
Se eu fugir… não sei… se voltarei…
Se me sinto traído… morres para mim…

Diz-me então… sempre… antes que eu parta de vez,
Na noite fria, em busca de estrelas no fundo do poço…
Procurando no abismo o reflexo de uma luz
Que me carregue…

Diz-me sempre…
A verdade mais pura…

Naquilo que sentes…

sexta-feira, 15 de maio de 2009

O Diabo anda nas ruas da cidade

Eu hoje vi o Demo passear-se nas ruas da cidade.
Trazia atadas aos pés duas crianças e meia, que arrastava pelas veredas de terra batida e nos paralelos de granito.
As duas crianças e meia, vendadas e atadas aos pés do Belzebu, não choravam, não riam, somente e apenas gemiam em tom de cantiga de embalar, ao tom do próprio andar dos negros pés que as pisavam e arrastavam.
Quando eu, e só eu, vi as duas crianças e meia batendo na estrada aos pés de Lúcifer, gritei bem alto, até que a voz me traiu: “Salvem as crianças que são levadas nos pés do Demónio!!! Alguém as liberte!!!”
… Todos me olharam, na minha figura… alguns riram… outros falaram… “…psh psh psh… é louco, deixa-o… psh psh psh… não ligues…”
…Até as crianças, todas as duas e meia que eram, me olharam de espanto, como se as acusasse de crimes contra a lei de Deus, quando eu só as queria salvar…
As duas crianças e meia… tinham nomes, apesar de pequenas… tinham nomes!... e desses seus nomes, sei apenas o primeiro de cada uma das duas e meia… “Orgulho”, “Inveja” e “Ira”…
Vi então, escrito nas folhas de uma arvore, “Tu és do dono do Inferno!” e soube então, que todas elas por inteiro, as duas crianças e meia, eram filhos da minha dor, órfãos da minha mente decadente, partes do ser que renego constantemente… que nem eu quero salvar… e se o Diabo se diverte, levando-as aos seus pés pelas ruas da calçada, é somente porque os pecados que cometi, por pura e mera estupidez, são recreio para o fogo das línguas afiadas, que me consomem os pensamentos sem saírem das bocas que as carregam… matam-me o pensamento a cada dia… com esses pensamentos…
Dói-me então… todo o espírito… que não sei se quero, salvar ou deixar ir… as duas crianças e meia atadas aos pés do Demónio…

terça-feira, 12 de maio de 2009

Volto em breve com novos textos...


Beijos e Abraços...

segunda-feira, 20 de abril de 2009

O punhal

O teu olhar mata toda a luz
Nos semblantes mais perfeitos
Nas flores mais cálidas, serenas
Consumindo-lhe todos os defeitos

O teu olhar consegue queimar
Exame que tormenta e se retorce
Penetra profunda, fatalmente
E quem sou eu, para te escapar

No fogo, árduo suplicio do prazer
Cravas-me de mágoa e passado
E quase que arruíno meus olhos

Só porque insisto em tentar ver

Só porque persisto em te resolver

Apenas, porque quero, perceber

Tomado pela cegueira, hesitação
Procuro nas mãos, uma resposta…
Papel, que os teus olhos retalham

Os teus olhos seduzem, ceifam
Pendendo à beira do teu sussurro
Fico assim, apenas com uma questão
Com meus lábios serrados, mudo

Porque insisto eu… nesta busca…
Gritando teu nome, até ficar surdo

Apenas…

Por ti…


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A centezima mensagem que deposito neste blog, é dedicada a todos quantos acompanham e gostam de acompanhar os devaneios que aqui registo.

Beijos, abraços e um muito profundo "Obrigado a todos"

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Inspira-me

Corta, arranca, morde-me esta mente!
Leva-me ao vazio, derradeiro fio da lâmina
Que retalha e descarna o osso alvo, duro
Rígido fundamento…
Desenraíza-me então de todo o entendimento
Que habitar corpo vão, é dor de permanecer
Em Locus Horrendus da memoria profunda
Em tal abismo…
Profundamente cravado sobre lajes de cinismo
Sou depravada criação de um qualquer tom
Das cores, que ardem entre o rubro e o carmim
Apenas sangue…

Abraça-me então…

Segura-me com força a carne oh alento desertor
Sopra então teu vento, dos teus lábios finos, céu
E diz-me, o que sou eu para ti, aqui na terra…
Para além de um tolo sonhador..?

terça-feira, 14 de abril de 2009

Tenebrae (Ofício de Trevas)

Da paixão dita e desdita, contada, transmissível
Que gera uma tal infecção de fé, que só tu tens
Leva-me sempre aos joelhos, enfrentando as luzes
Com mãos atadas entre os dedos, ao Tenebrário...
Onde estão as minhas 15 velas? EU tas devo hoje!
Em poemas que hão de vir, hão de ser, em mim...

À direita do degrau que não me atrevo a subir
Encontro com os olhos centena e meia de versos
Que li na fúria de te encontrar uma lei, um verbo!
Mas não existe uma constante, um sinal apenas
Entre as tuas luzes em tremor de fogo lento
Apenas resta à vista o vértice da palavra!

No teu ofício de Trevas, és a prova imaculada
Que do próprio seio de Maria, nasce a verdade!
Se de verdade se trata a fé, em baptismo, em morte
Acredito que no fogo que trazes em ti, ardente!
Queimando, moendo, olhares profundos em ti, assim
Sem alívio para quem tenta entrar nos teus Prazeres

Volta então à cinza, o homem consumido de desejo…
Pois nos cânticos eclesiásticos, não existem, assim
Forças que movam a alma, como tu, em teus dedos
E só tu assim consegues, faze-lo com tais palavras…



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Dedicado a Maria Treva Flor, que podem visitar ali ao lado.
Espero que ela goste, como eu gosto do que ela escreve.


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O ofício de trevas (Tenebrae) é uma cerimónia medieval da Paixão, que consiste em ir apagando as 15 velas do tenebrário (candelabro triangular ao lado direito do altar), representando os 150 salmos da Bíblia, até só uma, que representa Cristo, ficar acesa.
Ao final de cada versículo cantado, as velas do tenebrário foram apagadas, uma a uma, de modo que, ao final, a Igreja permanecesse em total escuridão. Apenas a vela do vértice do triângulo não se apaga, simbolizando Cristo, a luz que ilumina todo o homem, e sua ressurreição.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Sombras na vida

Não são apenas os meus dedos
Que encontram os teus, só teus
Não sou apenas eu que procuro
Pois a busca é a nossa partilha
No olhar que lançamos aos céus
Caímos ambos, nós, os dois
Naquela negra armadilha…

Debaixo do sol, somos sombras
De nós mesmos, para nós próprios
E apenas o toque é sentido válido
Quando a escuridão é noite eterna
Nos ouvidos surdos
Nos olhos cegos
Na boca seca
Sem cheiro

Não mais posso ver os passos de luz
Que me deixaram no amor, na génese
Pois com corridas tolas, rápidas, ofegantes
Perdi chaves e fechaduras das algibeiras
Perdi respostas e perguntas da boca
Perdi as mãos com que te tocava…
Perdi-as dos braços, que te abraçavam…

Perdi minhas mãos, as minhas mãos!!!
Que deixei nas sombras dos meus pés
Por olhar o Sol, por querer a Luz
Luz que não me pertencia ver
E a acção leva à reacção

Crime, olhar o divino

Castigo, cegueira

Vida, quebrada

Morte, lenta

Simples…
Desespero…

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Por agora... ocupado... muito mesmo...

Espero ter novidades em breve.

quarta-feira, 18 de março de 2009

A Letra do Pecado

Aquela letra louca, solitária e irracional
Que se encontra entre o queimar do fogo
E se torce como serpente, como desejo
Para arrastar as almas ao acto de gritar
Quando tudo se resume, nessa letra louca

As duas letras que se juntam, mordazes
Que derretem os lábios em cera quente
E se espalham pela pele, como a paixão
Para fazer ferver o desejo mais escondido
Quando se unem os dedos, nessas letras

Três se casam, na malícia e no prazer
Que nada podem mais fazer que matar
E levar ao desespero os amantes tolos
Para que não mais se libertem de si
Quando são apenas três letras, não mais

Uma sílaba se forma, nas labaredas
De um inferno que é luxúria arrebatada
Todas as letras se mordem e se arranham
Todo o ser se cobre da sua vontade
Todas elas se libertam num grito, final

A respiração ofegante é cortada…

O som liberta-se, por fim….

A palavra nasce…

_ _ _

O que foi? Ahn…?

terça-feira, 17 de março de 2009

Trinta minutos

Tenho só e apenas mais trinta minutos
Mais uma metade do tempo marcado
Para me libertar da minha solidão
Para dizer adeus ao meu silencio
Para morder a bala e aceitar a vida
Para morrer de mim, nascer para o dia

Tenho somente trinta minutos marcados
Menos uma parte da porção forçada
Para organizar os sistemas de valor
Para fechar os lábios para o mundo
Para encontrar coragem e mergulhar nu
Para me dar conta, que dos trinta minutos
Só já restam, só e apenas, vinte e nove e meio

terça-feira, 10 de março de 2009

Luz e Lei

Negar até ao longínquo fim, a morte certa
Reduz à insignificância o final da passagem
Quer por valor de actos, ou mera mensagem
Procuro, ainda, e irei sempre procurar, mais
Poiso meu apenas, um ombro, para repousar

Por vezes corto a minha própria alma, também
Pedir justiça a quem nunca me falhou, nunca
E perco as razões de querer as leis que acudo
Pois o valor de uma vida não se contem assim
Não, não existe recipiente para o saber sofrido

Espero encontrar por entre os meus papéis
O dia que eu perdi para o sonho mais amargo
De ser quem traria ao mundo mais uma luz
Quando as apaguei todas num rompante
Para que apenas a minha razão se visse

Peço então perdão aos meus anjos
Peço então perdão aos meus santos

Peço que me entendam, irmãos…

Hoje, deito-me triste…

quarta-feira, 4 de março de 2009

Aprendiz de Feiticeiro

Sou o aprendiz do feiticeiro!
Porque nesta vida, em que passo os dias
Fazendo tudo aquilo que não devo fazer
Que ninguém me ensinou como fazer
Quebro a longa corrente da transmissão
Da infiltração, da infecção do conhecimento!

Sou eu o aprendiz do feiticeiro!
Porque não aceito que nesta vida, todos os dias
Não se faça o que deve ser feito, mas ninguém faz
Que ninguém se interessa por saber como fazer
Ninguém me diz porque não atravessa a parede
Ninguém salta sobre esse fétido e morto saber!

Sou EU o aprendiz do Feiticeiro!
Sou eu o Feiticeiro que é mestre sobre o aprendiz!
Ensino-me a cada dia a justiça sobre mim mesmo!
Procuro todos os dias a justificação de mim mesmo!
Encontro em dias a justa medida para ser eu mesmo!
E perco… cada dia mais, partes de mim mesmo…

Sou aprendiz de feiticeiro…
Deixem-me ser assim…

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Ainda não

Talvez querer mais um pouco
Que por vezes é tão demais
Mais que o que se pode querer
Retira todo o espaço para ajustar
Tantas leis que surgem do fumo
Que nem corpo que segure a alma
Com tanta força de querer, mais
Pode ser pedra no rio gelado

Intenções profundas de emergir
Surgir por entre as minhas sombras
Mais uma oportunidade, mais uma

Momento para decisão, desordem
Disposição caótica nos sentidos
Uma inércia motora, de um coração
Que não quer ter de ainda bater
Não assim como bate agora, não
E perde-se na força, todo sentido
De procurar sem encontrar, o Eu
Sem mãos, sem braços, sem lábios
Nada, que me leve para lá de mim




Obscuramente

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Longa ausência

Longe, muito para lá de longe, espero
Pois aguardo por algo perdido em mim
Guardo desejo por um céu azul, assim
E de longe, para longe, aqui fico… sim

Alento, que falta faz esse ar, da manhã
Pois recebo vida por entre os lábios meus
Roubo do firmamento gotas da lua, branca
E sinto tão perto, mais perto, a existência

Perder, assim, como o faço, perdendo tudo
É sina de quem nada mais quer do mundo
Que não seja sonhos da cor da água, sim
E sei, bem sei, nada tenho, alem de mim

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Não há mais força

Pés ao caminho, força, rápido, mexe-te por uma vez!
Coloca tuas mãos nessa parede e faz-te ser humano
Que lutando contra muros de pedra se fazem homens
Com mãos de ferro, espíritos de fogo, forjas pensantes!
A fuga será sempre uma inútil ilusão de agarrar a vida,
Largando-a no ar, às estrelas…

Levanta-te e faz peito, que as balas atravessam a carne!
Terás de ser rochedo de aço negro, faz-te máquina!
Que para produzir foste feito e criado, recriado e fadado
Com olhos de vidro, rosto de cera, aparelhos sobreviventes!
O erro é detectado como descartável tentação de saber,
Colocado ao lado, com defeito…

Agora chora… enche essas lágrimas do ódio no teu olhar!
Pois foste projecto traçado a carvão, apagado pela chuva…
Que por querer, apenas querer… o acto de poder viver…
Com dedos de vento que não reconheces no suor da cara
O arrependimento é marca, permanente, imutável, eterna
De uma vida, que passou ao lado… de si mesma…


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"Entre a vida e a morte, vai do cagar muito ao não cagar de todo, em vida todos fazemos merda"

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Rumo ao Norte

Nas direcções mais extremas, pontos perdidos
Sem orientação que valha aos meus sentidos
Procuro encontrar o que há muito está disperso
Pelo ar morto do calor infernal, um olhar imerso
No vazio momento final…

Que não é de época, não se trata de ter mais tempo
Mas resulta tudo na crónica falta de oportunidades
E em cálculos frios para tentar esquecer as saudades
Chego então a conclusões, numa pedra, no chão, sento
Escuto… scchhh... Faz-me silencio…

No céu gelado da noite de ontem, vi finalmente
Que por mais que agrupe, não pode ser “Somente”
E a busca incessante que uma resposta única permite
É parte do problema, não se pode tratar com limite
De problemas intemporais, do sentir…

Tudo se trata de encontrar os meus pontos cardiais
Quando os caminhos são demais, desde que saiba
Que nunca importa se sigo para Sul… e muito mais
Que o para lá chegar, parti do norte… e tenho como
Regressar… um dia…

domingo, 11 de janeiro de 2009

The Vicious Five

Tributo a Carlos Paião


Zero, a zero, a zero, vai o jogo recomeçar
Já se sente o desespero, precisamos de empatar
Azeda, azeda, azeda, a derrota é de amargar
Zero a zero é labareda, não perdemos sem ganhar

Zero a zero, grão a grão, de nada em nada
Vais erguendo a barricada que há um zero a defender
E são ferrolhos, tira-olhos, tira-teimas,
Correrias, saltos queimas que há um zero a perceber

Há zero mães, zero alarmes, cima-abaixo
Jogo branco e o berbicacho e risadas, volta atrás
Há um vazio revirando regelando,
Passa o tempo sendo brando, fazendo zero, tanto faz

Há zero a zero, há cem a cem
Com zero a zero, vai tudo bem
Há zero a zero, há cem a cem
Com zero a zero, vai tudo bem

Depois, depois, depois, vai dar muito que falar
Nulidades ou heróis, todos têm que velar
Zero, a zero, a zero, há-de o jogo terminar
Pra’ dizer sem exagero, “foi a zero, não há azar”

Zero a zero, repartido, por outro zero
Já não espero e acelero que se caio também cai
A zero à hora, vou de roda e recupero
Quero dar a volta ao zero para ver aonde vai

Com mais encores fazem zero apologia
Muitos zeros é mania, zero a zero é pequenez
Duas noitadas, são as lógicas maradas
Desempate ou desempatas, empatamos outra vez

Há zero a zero, há cem a cem
Com zero a zero, vai tudo bem
Há zero a zero, há cem a cem
Com zero a zero, vai tudo bem
3x


__________________________________

É impossível ganhar o jogo…

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

São jogos de gelo e sangue

Brincadeiras quase inocentes, do perder e não encontrar
Do receber sem poder dar, assuntos demasiado sérios
Que fomentam mentes desocupadas nas palavras vãs
Mas choram então, as almas que já nem o dizem sequer

O desejo de arrancar a dor ao mundo, nem que seja assim
Pela força das mãos, que estalam num pobre rosto perdido
Entre lágrimas e céu negro, olhos cor do sangue mais vivo
Já nem as lágrimas se aproximam para ver, tanta que é a dor

E tu dizes-me tão simplesmente, que já não sabes mais
Se é sangue que te corre dentro da cabeça dorida, carregada
Ou se é gelo, que te pesa, te corta, te mata toda a alma…

domingo, 4 de janeiro de 2009

Por uma hora

Queria encontrar uma hora, de verdadeira riqueza
Entre as soluções matemáticas contra a dor humana
Pois é tal a febre de encontrar curas para o sentir
Que parte a esperança de viver a vida, vivendo
Fica apenas o desespero, de a passos, expirar

Janela esta que me interrompe o olhar profundo
Para lá da névoa, para além do rochedo longínquo
E nada reconheço, nem minhas mãos nem meus pés
Pessoas ou vultos, são luzes apagadas da memória
Que arrastam consigo cada lágrima que me cai…

A solidão torna-se um fogo quase apagado no canto
A distância converte-se em pura vaidade do vento
O silêncio, apenas uma brasa desprovida de chama
A tristeza revela-se uma memória da perda eterna

E eu… já não reconheço a fragrância do carinho
Já não sei o que é sentir o calor que me abraça
Já não sinto o sabor das pétalas da rosa delicada
Nem o toque da água mais pura, me lava a alma

Mas nunca pude dizer adeus, por medo de partir
Por receito de não poder mais regressar, aqui
Por mais que me seja prometida, a eternidade
Escapasse-me, por entre meus dedos tolos
A verdade mais verdadeira, permanente
É que, eu não sei amar…