segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Perto do fogo

Fico a olhar o lume
Apenas pelo prazer de contemplar as chamas
De ver subir aquelas labaredas encarnadas
E sinto uma vontade de poder respirar o fogo
Para sentir como pode purificar o seu calor
E derreter o gelo que me aflige, por dentro

Fico, apenas, a olhar aquele lume
Pelo conforto de estar perto de uma fogueira, apenas
Só para ver como o fumo não resiste a elevar-se no ar
E as brasas se avivam com cada gesto de vento vivo
Para que a magia rubra não se torne cinza morta assim
E o negro, por um pouco, só um pouco, ilumina-se

Fico, só mais um pouco, a olhar o lume
Somente para ver o carvão que aos poucos se vai
Para tornar ao pó, em tom de promessa póstuma
E não deixar para trás restos de uma vida sólida
Para que tudo seja luz e cheiro, e calor, e som
E que de tanto querer dar, queima se for tocado

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Amanhecer

Já não estou mais sóbrio ao sentir
Sem olhos que me vejam dormir
Ando, não paro, irei eu, assim cair?

Espinhos enviesados, retorcidos e virados, tortos
Que se contorcem para me entrar pele adentro
Como raízes de uma dor mais velha que a escarpa
Regados a sangue e magoa, veneno cristalino, puro
Crescem espinhos por meus ossos dentro, tão duros

E são meus, esses dentes que os prendem quietos
Que seguram esses pregos, que se cravam negros
É a força da raiva mais profunda a todo o sofrer
Que mantém à superfície o alento de não perder
Que de farto, quase que quero matar a própria morte
Para não mais a ouvir dizer “Tem mesmo que ser…”

Olho então… mas já não quero mais ver… não…
Que todos os aguilhões do meu tormento se vão
Não passaram de grãos de terra e chuva nos olhos
Olho… mas não quero ter de ver… por favor, não…
Que as vivas dores eram apenas o simples, viver…
E que tudo, mas tudo, não passou de uma ilusão…

Magoado pelo mistério, chorei…
Revoltado com as respostas, gritei…
Mas de olhos abertos… desvendei… que só e apenas,
Nada sei…


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Voltei...

sábado, 6 de dezembro de 2008

"Viso quem acaba de entrar... o minimo que se pode dizer de mim é que penso matar-me e levar alguem comigo"

Rodrigo Guedes de Carvalho in Canário

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A sinceridade pode assustar...

domingo, 16 de novembro de 2008

Para longe...

Faço intenção de fazer valer o poder da distância, matarei pela falta o que não posso cortar…

Volto, um dia de entre muitos, eu volto…

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Último sopro

Final de todos os “finalmentes” em cadencia de trote
Caiu aos pés do tempo outro cadáver da eterna guerra
Em terra, por terra, sem um prazo definido de vida
Mas como uma data marcada de morte… de tudo…

Dias inteiros, quebrados pela fome de ser o que sou, Eu!
Sem alento ou vento para voar para lá de alem do mundo
Os nexos perdem-se nas razões que movem as nuvens
E todos os motivos se convertem em desculpas murchas

Não existe qualquer senso no que o racional não vê
Mas se penso ou se julgo apenas pensar, se penso
São apenas momentos, de tão vagos, translúcidos
Nunca sei, não sei, não… por favor… deixem-me…

O que me dói sempre mais é pensar, sem parar
Que o inverno guarda o que quero para mim, fechado
Num inferno que encontro sempre na palavra “amar”
Acredito, sem sombras, sem duvidas…
Que não tinha de ser assim…

sábado, 8 de novembro de 2008

Visões turvas

A verdade naquele espelho de grades e névoa
Onde os grilhões são cordas para a liberdade
Não existe mais realidade que aquela vivida
Porque não é vida se não for por mim sentida
E eu perdi faz muito toda a réstia de sanidade
Nem sequer quero mais sentir o calor da terra

Na certeza insegura de um sentimento funesto
Por becos intransitáveis da alma, de tão cansada
Em ritmo tremulo de um passo, sem mais perdão
Procuro tudo em todos, sem ter qualquer revelação
Sei que a minha mão é débil, cobarde e desarmada
E mesmo nos dias de maior pesar, não mais protesto

Pela vontade de realizar o propósito de ser assim
Em quantos dias deixei tudo, por mais um segundo
Parti sem ar, sem vento, sem sangue e desalmado
Mas nunca fui quem morreu sem ser um dia amado
Apenas alguém a quem o amor dói mais que tudo
E sei, bem que sei, que aqui, nada há para mim…


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"A tristeza nunca escolhe um lugar para dormir"

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Insistida Negação

Aspirat primo Fortuna labori
Me duce tutus eris
Vox populi vox Dei
Ad majorem Dei gloriam
Ad infinitum


O destino sorri sobre os vossos esforços
Debaixo da minha liderança estarás a salvo
A voz do povo é a voz de Deus
Para grande gloria de Deus,
Para o infinito!
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A chuva cai e o silêncio muda de cor
Molhando o rosto das folhas já caídas
Tropeçando ao de leve nas gotas de si
Num tom do assobio surdo, de alguém
E eu assobio leves trovas para o céu
Como que cantando para o embalar

Não há Deus para o espírito que carrego
Não existe força que segure esta angústia
Que escava alma adentro sem piedade
Roubando todos os desígnios maiores do ser

O céu esmoreceu sem mais estrelas para brilhar
Por lhe faltarem respostas para os meus gritos
Produzidos do medo de ser parte da doença
Que secou todas as lágrimas do relento gelado
Que sorveu todos os respingos salgados do olhar
Que desviou o rio, para não correr para o mar

O vento deixou de levar o moinho ao ar
E a chuva já não cai nos meus olhos
O ar foi fogo por um segundo inteiro
E a erva já não é mais verde, mas negra
O carvão tomou de assalto toda a paleta
E já não há Deus que valha…

Pelo meu trabalho inconcluído… Nem o diabo me carregou!

Já não sou mais voz… não mais falo…

A glória está na força… que não tenho…

E o infinito estará sempre longe demais para os excomungados!

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Estou a desaparecer

Estou a afastar-se, diante do meu próprio espelho!
Num estado, de lucidez tão enevoada e pardacenta,
Que eu sei, diante de mim, desapareço no reflexo
Sem que possa acordar, no interior da nuvem cinzenta…
Definho lentamente.

Estou a ser levado, diante do céu o mar engole-me!
Num completo desgoverno sobre o que posso ser,
Sei que já pouco sou, porque este abismo é solvente
E nem que soubesse nadar no lodo, nada iria ver…
Não consigo dormir.

Estou a cair, poço a dentro sem amparo ou salvação!
Na mais insana agonia de quem conhece o seu fado,
Nada sei para lá de mim, já que sem luz não há visão
Mesmo que os olhos gritem, é choro desperdiçado…
Não posso parar.

Estou a morrer, mas peço por favor, não me salvem!
Na maior das tristezas eu suplico perdão por uma vez
Mas desta vez eu sei, sei bem, sei o que me espera alem
E mesmo partindo, pois é assim preciso, volto, talvez…
Não quero desistir.

E de todas as certezas, apenas um trago comigo…
Se quero ser alguém diferente, só morrendo…
Para voltar a nascer…
Eu voltarei.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O Olho das Cascavéis

Um velho índio cuida um jovem, juntos na mesma tenda, envoltos em fumos. O velho passa panos de água na fronte do jovem febril, que sonha e delira sem encontrar sentido para os próprios sentidos. O jovem “Espinho” que tanto queria ver o mundo, jaz caído aos pés do mundo, sem poder ver o céu ou a lua, sem uma luz ou um fundamento que lhe sustente o espírito, e o velho, esse velho dentro daquela mesma tenda, prende-o à vida pela força das palavras sábias que já ninguém conhece ou sequer reconhece, a linguagem da própria alma!

VI: Consegues ouvir-me “Espinho”?
VI: Quase não conseguiste…
VI: Ele morreu… não voltará para te atormentar…
VI: Na verdade, ele estava morto desde o inicio…
VI: Tal como tu “Espinho”…
VI: Os olhos dele, encontraram os do homem que se entregou ao rio, agora, deixa o curso do rio leva-lo para longe…
JE: Obrigado pela sinceridade…
VI: Os teus olhos conseguem ver profundamente o reino dos mortos… o que viste tu?
JE: Tive um sonho, foi a primeira vez, a primeira, que tive mesmo medo, tremi com medo… se algo, se um átomo tivesse cedido, então eu teria ido…
VI: Não era um bom dia para tu morreres, então, não morreste, apenas isso…
VI: Fica com este conhecimento, espinho das silvas: este olho azul conjura tudo e todos conjuntamente, o passado, o futuro e o presente, tudo se move e tudo está interligado.
VI: Este olho não se limita a ver a realidade, ele toca… a verdade.
VI: Abre o olho da verdade, não existe nada a temer…
JE: Sim… consigo ver o que queres dizer…

Um ser que serpenteia entre as lendas e o absurdo, vivendo a própria terra em que se arrasta, nos seus frios e quentes, areia e rochedo, na busca eterna, incessante, desesperante do calor do sol.
Os filhos castigados de Nehebkau, os opostos do Deus Sol, que por fado ou por sina estão condenados a procurar a luz, saindo de seus covis em tom de sussurro matinal, tão discretamente como entraram ao cair do céu soturno.
Diz-se por terras Nipónicas, “A Serpente que percorre toda a terra, por montes e vales, atravessando rios e mares, jamais poderá sentir o reino dos céus, pois só voará nas garras do Falcão!” Triste fado o da serpente, mas perguntará a serpente ao falcão “Conheces o mundo debaixo do rochedo?” e este não terá resposta.
É consentido ao excêntrico que voe, fazendo troça de quem rasteja, mas a esse excêntrico que nasceu com asas, será que ninguém lhe disse que a realidade não está apenas debaixo do firmamento, existe vida para lá da própria terra, dentro das pedras, sob o mesmo chão dos homens! E são eles, os descendentes de Ophidio que guardam os filhos de Hermes e podem guiar qualquer um até às derradeiras portas do Hades!
A força de quem conhece a doença e a morte, só pode vir de quem delas renasceu, para as perceber e mudar a infinita pele que ainda vinha daquele ovo sufocante, para mostrar o esplendor de quem vive coberto de espelhos que mostram as cores das arvores e da terra, das verdades mais sagradas!
É destes seres de poder sobre a doença e sobre a morte que recai a responsabilidade de dar a saúde e a nova vida, partilhando o segredo mais sagrado de Platão, que viu o girar infinito e perpetuo do Ouroborus e reconheceu a presença da verdade suprema sobre a vida e sobre a morte, na serpente que morde a própria cauda. A alquimia de todos os livros é parca se não for visto de olhos serrados, o enorme poder de abraçar os medos, recolher para si o terror mais profundo, aceitar o mais extremo de si mesmo, num processo imediato em que o ser de mata, para poder renascer, dando vida a si próprio! A verdadeira imortalidade, está assim, no acto de poder ser uma serpente que se mata a si própria, para que outros possam ver, e alguns, poucos que sejam, quase nenhuns, poderem ver e ser também eles a víbora que não envenena, mas que diz a mais pura verdade sem palavras.
Mateus exortou seus ouvintes com voz de trovão de platina "fossem vocês consequentemente sábios como serpentes." (Mateus 10:16) e suas palavras cortaram mais goelas que qualquer espada na mão do homem poderia ter feito! Pois as serpentes compreendem a dualidade da vida, a eterna união de todas as coisas, mesmo dos opostos e vivem completamente o ciclo de nascer e morrer pois mesmo que a cauda fosse a boca e a boca fosse a cauda, acabariam por recomeçar de novo, como no dia do seu nascimento. Tudo acaba como começou, e tudo começará como acabou, na ordem imposta pelos Dirigentes da Ordem Sagrada, os Matemáticos Divinos.
E será mal desafiar a ordem dos homens? Será pecado tentar outros a provar do fruto proibido? Será loucura não querer voar como o falcão, saboreando os paladares da terra firme?
A verdade é um veneno que dói… não é?
A própria forma do universo trai os gaviões, que se peneiram pelos céus… enquanto olham para pontos e traços no chão, a vida floresce… e eles não se apercebem…
Pobres deles, que por voarem tão alto não conhecem a sabedoria dos animais da terra, não escutando mais que o seu próprio grito, não perceberam o tremer do brilhante capelo, com tantos anéis como anos. Não escutando tal aviso, tal pronuncio, tentam sempre prender a cobra nas suas garras afiadas, a cobra que apenas desejava poder apreciar o calor das pedras singelas, defende-se com uma dose de verdade destilada, nos gumes das suas armas escondidas, fazendo cair o falcão em miséria, sem que este saiba renascer…

VI: Jovem “Espinho”, sabes então que a tua força não está em matar o falcão, mas sim no poder que essa possibilidade te confere…
VI: Guarda para ti todos os teus sonhos a partir de hoje, a tua alma não te poderá mentir se a conheceres como conheces…








Devaneios de um tolo que gosta de vento.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

"A alma resiste muito mais facilmente às mais vivas dores do que à tristeza prolongada"


Jean Jacques Rousseau
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Eu percebi professor... eu percebi... e como percebo...

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Silêncios

Decadente é a escada que não me atrevo pisar
Por não encontrar qualquer réstia de coragem
Incapaz de ter força para estes frios degraus
Sei que ignoro o objecto no alto da triste fortuna
E por isso fico, parado, imóvel no primeiro passo

Brilhante luz por detrás daquela porta negra
Que temo cruzar com meus olhos abertos
Perco a força por temer ser cego novamente
Os sentidos adaptados a uma constante treva
São grilhões que me prendem neste ponto

Moribundo ser o meu, desprovido de vontade
Que morre na previsão de uma qualquer repetição
Meus dedos temem falar da sua verdade oculta
E meus lábios são seres falecidos na entrega
Fico então em silencio, por medo da saudade

Amor e Vicio

Um café meio, um cigarro, um isqueiro
Objectos essenciais para a vida decadente
Mais um pouco, peço, mas a chávena é pequena
Apenas mais um pouco, o cigarro vai a meio

Pouso entre meus lábios os símbolos inertes
Do vicio, do pecado, da eterna fragilidade
Se me distraio o consolo arrefece, a chama apaga
Como em tudo, os totens de quem não vive

Mais uma beata, mais uma chávena desabitada
Destino de um tolo que apenas observa e consome
Nunca fico desperto que baste, a corrupção não cessa
Fico sempre com desejo, fico sempre aquém de mim

Desisto então de resistir e acendo mais um
Só mais um porque o dia foi longo e duro
Mas seria o mesmo se fosse de simples tédio
É assim, tudo, no amor e vicio, sempre insatisfeito

domingo, 14 de setembro de 2008

Ruínas

Doces as baladas às frias pedras da minha torre
Cantadas por um choro mudo e sem vontade
Num consolo mórbido, incurável e intencional
Do gelo branco e da neve solitária, caio também

Como pétalas de cerejeira, tingidas a dor e púrpura
Sobre as aguas lavadas da montanha quebrada
Corro eu também como fio de um sentimento
Para um mar sem lua, sem estrelas, sem sonho

Não existe destino para quem dura, apenas fado
Pois é em caminhos que não palmilho hoje, agora
Que perco toda a alma e coração, desejo ou devoção
De seguir a noite, pé ante pé, que persigo sempre, enfim

Num olhar, por fim, procuro tudo, pergunto, tento
Mas sem a luz do azul, nada vejo, nada é como é
E apenas tropeçando, tenho tacto para ver e saber
Que as pedras do meu chão, foram um dia paredes

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Progresso em Retrocesso

Finalmente virado do avesso, com ou sem retorno
Vejo, ouço, cheiro, provo, sinto, mas não penso

No ponto de partida de um abismo que se abre
Encontro o conforto de uma queda sem amparo
Que o ar frio me corte, o rochedo me queime
No fogo interno e eterno de um inferno meu!

Mergulho enfim no sentimento que me persegue
Mais por mal que por um outro qualquer bem
Assumo nas mãos o sangue do meu sacrifício
E corto do peito o próprio âmago da impureza

Se em evolução de afecções quase infecciosas
Somos imoladas vítimas desse objecto frio
Que alguns tomam por quente como fogo
Eu digo apenas… amor… é o fim do jogo…

Regresso ao estado primordial da matéria etérea
E sofro a divisão Cartesiana nos prazeres e razões
Não mais me perco por alma que não me pertence
Pois não há alma que eu queira mais que a minha!

E a vida recomeça, após o quebrar do vaso caído
Sobre as cinzas nasce o nome escrito com os dedos
Do destino que há muito foi escrito… “Infrequentia”

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Auto-Citação

"Odeio tanto o meu passado como odeio a piedade alheia, ambos me incitam nojo..."

A. Afonso

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Claustro

O branco imundo das marcas digitais
De tanto tactear por uma qualquer saída
Onde corra ar menos carbonizado, mais vivo
Que eu possa inspirar, por fim, enfim…

Ângulos fechados da superfície lisa
Já nem sinto a textura na ponta dos dedos
O negro vazio de estar aprisionado
Leva-me toda a vontade de simplesmente ser

Quanto mais penso, menos posso existir
Logo sinto falta de poder apenas sentir
Pois só quem sente pode realmente afirmar-se
Como existência completa neste mundo

Mas não desisti, ainda, sem parar de todo
Pensando quieto não poderei atingir nada
E tenho então de sair para sentir de novo
A dor que me diz “Tu existes para me sentir!”

Flor do Deserto

Vento poente que me carregas a alma
Para longe de magoas, de solidão
Trazes contigo o murmúrio das folhas
Cheiro de água, que não me lava do passado

És lamento dos meus próprios pecados
Aqueles que não cometi mas carrego
Porque nasci da terra manchada de sangue
Para ser vida imaculada, e não morte, que sou

Sou arrependimento de quem me ousa amar
Pois não dou os frutos que prometi em flor
Tantos são os espinhos em meu redor
Que nem as cores das pétalas que invento
Podem ser vistas entre entrançados de dor

Prisão emaranhada de complexidades
Adversidades, excentricidades, infelicidades
Não sei porque ainda cai esta pouca chuva
Se é apenas deserto e morte que vejo
Em redor deste ser que murchou e secou…

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Porque choras pequeno anjo?

Diz-me o porquê dessa tua magoa…
Descreve a tua angústia, mas apenas a verdade…
E desenha-me em azul e preto o teu céu da noite…
Quero saber os motivos do teu sofrer…

Quero que me digas, são sempre assim
Tão profundas tuas lágrimas ao adormecer?
E, porque pintas de sangue carmim
O mesmo chão em que te ajoelhas?

Segreda-me baixinho, quem não te ama…?
Grita-me bem alto, quem amas tu…?
Apenas para um dia eu poder dizer
Se é duvida ou certeza que vive em ti
Pequeno anjo…

Traça em todos os mapas os teus caminhos
Para que eu possa sentir os teus passos
Pois se eu olhar um dia e vir o que tu vês
Seremos então, um pensamento a dois…
E eu entenderei…

Porque choras tu, pequeno anjo…

Lua Negra

Como flor perfeita em jardim de espinhos
Nascida a sabor de ventos, por selvagem desejo
Como vida desfeita entre mortos caminhos
Encontro-te em mim, mas não te vejo…

Queria ter força, não ser fraco assim
Querida flor ao sabor do verão triste
Encontro em mim apenas palavras de adeus
Unicamente, quero que não percas a tua fé

Soubesse eu cantar o que anseio gritar
E tudo seria céu sem nuvens negras
Mas em dias de eclipse, luz morta em mim
Não sei pedir a esta lua negra que me deixe
E eu não sei, nunca soube, como viver assim…

terça-feira, 15 de julho de 2008

Terra fria

Numa terra levada sobre as montanhas geladas
Pende mais uma nuvem que anuncia a chuva
Sempre que passa o sol e chega a lua levemente
Pergunto em silencio onde está o que perdi

Figuras que me afundam o olhar numa imagem
Que me incendeiam todos os papeis mortos
Na cave escura e fria do meu mais querer
Nascem desejos das cinzas e sonha o homem
"Um dia, hei-de conseguir viver…"

Só essa nuvem que passa me traz o sorriso
Tira-me a voz, cala-me o rir e mata-me sempre
Para todo o sempre, em mil noites sem dias meus
Como eu queria, ver o sol nascer para mim

Pois sou desvio da mente que não nasceu livre
E tenho sempre de encontrar o norte no sul de outros
Numa ilusão de chama que afinal não é fogo
Não me queima os sentimentos que já não quero
E por isso deixo por ai perdidos…

Vergo-me pela força da própria terra seca
Rastejando pelos vidros do meu chão de pedra
E que ninguém me tente erguer sem eu gritar
Pois só sofrendo nesta noite terei direito ao dia

E então espero que nasça a luz do nada
Não me importa onde e quando a luz nasceu
Por isso não fiques mais por mim, aqui, assim
Que um dia algo me trará de volta, melhor
Pois o dia de hoje não existe mais
E serei eu que amanha ou outro dia
Me encontrarei…

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Volta para mim primavera

Olho para os verdes campos sem pensar, raciocinar, sem dar medidas às flores da última primavera, que pousou e voou sem se fazer ver, ou fui eu que não pude abrir os olhos para a notar...
Perdi mais uma vez a essência da vida que recomeçou, por deixar morrer tudo em mim aos poucos, como as flores que vão secando sem deixar sementes neste ano que vai longo...
O que eu quero não é regressar pois não tenho sequer para onde o fazer, nada nem ninguém volta para casa, se não tiver casa para voltar! E este ano, foi mais um, em que os frutos de outros ficam maduros diante de mim, ao sabor do sol quente deste dia, sem que eu tenha os meus para dar...
Dói, saber que era verde, agora estou a secar e nunca tive o meu vermelho, pois passei ao lado das minhas flores sem as carregar...
Sem saber, sinto o que não nasceu como se tivesse partido sem aviso e quero então gritar, mas sei, que aos poucos estou apenas a perder a força, a murchar, sem tempo para saborear mais a terra molhada pela chuva, sem vontade de voltar a ter o verão para mim...
Só o vento e as sombras me confortam agora, porque somente eles me tiram o sol dos olhos e não deixam de me embalar com doçura…
Espero que o vento nunca me deixe e a sombra nunca vire, não quero perder meu amparo, debaixo deste sol que tanto magoa e não cura, apenas queima...

O coração não sabe ler

“Primeiro deves escrever com o coração, ler e só depois escrever de novo com a cabeça”
William Forrester

Para escrever com o coração tenho de conhecer o coração, como quem conhece a mão da caneta e a caneta na mão, cometendo erros típicos da inocência, sem complexo, apenas devo escrever.
É então que sinto o que escrevi, para que o coração sofra mais uma vez, para saber se é verdadeira a dor que escrevi no papel, para recordar o momento da lágrima que se soltou e saber se foi limpo o sentido das palavras.
Com a cabeça apenas tento tornar fácil de perceber o que só eu entendo, fazer dos outros também, aquilo que era só meu e apenas meu...
Sempre que o faço, desprendo de mim mais uma gárgula, mais uma ameia que cai, fico menos castelo, torno-me mais escadaria... só assim deixo que outros vejam tão longe, tão alto, tão perto como eu e só eu vejo...

Queria ser fonte

Queria ser fonte para chorar, soltar gotas de saudade antiga, sem perguntarem porquê ou quando, simplesmente ser fonte de agua sem fim, sem época, sem tempo de menos, sem tempo de mais...
Já tenho esculpido em mim sulcos e faces de pedra dura, cobertas de anos, de invernos que me enchem a alma e me fazem querer transbordar toda a mágoa por secar...
Veria em mim todas as imagens do céu azul e cinza, de todas as estrelas no negro da noite que não dormi, no murmúrio de sapatos pretos que em compasso passam e já nem olham de tanto habito de ver sem observar, de ouvir sem escutar, de saber sem conhecer, aquela fonte que sempre jorra...
Nos passos rápidos de quem não têm pressa mas temem sempre chegar tarde mesmo ao destino que não conhecem, sei que o mundo não pode parar em meu redor, ninguém pode esperar que mais uma gota sequer das minhas lágrimas caia no chão frio, mas no centro do jardim onde eu sou fonte, as calçadas brancas de sujo, são vivas de flores que eu alimento de sonhos perdidos...
Fui e serei sustento de pobres e loucos, pombos dos telhados, demasiado citadinos para perceber, que o murmúrio da minha agua os lembra dos rios que nunca viram, que nunca lhe banharam os pés, que nunca lhe purificaram a alma pecadora...
Sou no entanto a agua que os recorda que todo o ser sente falta de beber a vida na corrente, somente para não esquecer que em todas as estações se sente sede do cantar limpo e puro da agua na pedra, que só assim as pedras cantam... e só assim se mudam...
Sou então criação de artista maçom, construção da fé imortal, o objecto da memoria, compasso de pensamento, da necessidade, da saudade, do tempo em que eram rios que levavam os pecados do mundo para lá do mar, são rios que já não correm...
Irei então dar sempre as minhas lágrimas nestas palavras a este jardim de poemas, onde todos passam e colhem as flores, flores originais das minhas ideias, frutos do meu pesar que me levam sem esperar que atinjam a beleza que lhe desejo, de mim para as gentes nada me impede, de continuar mais um dia... a chorar...

domingo, 22 de junho de 2008

A caixa para Pandora

Antes de o tempo arrastar o vento
De o mar ser cortado pelas ondas
Ou de a terra não ser o céu azul
Uma linha foi torcida em fino fio
Que meus dedos não hão-de quebrar

Fiz para ti uma urna de desejos
De sonhos cintilantes talhados a fogo
Decorada de poemas mal amados
Que são dores da minha alma perdida
São pensamentos que te deixo, para guardar

Fechei para ti essa arca de ideias
Não a abras mais, eu te peço carecido
Porque são demónios que me atormentam
E me queimam, sempre que os soltas com o olhar
Não mais os tentes ver, fica apenas com a memória

Nunca mais abras esta caixa que te fiz
Não mais tentes sonhar com sua melodia
Porque fere saber que isso te mata aos poucos
Esta maldita caixa que me guarda pedaços soltos
E está cheia de monstros que tirei de mim…

Entre aspas

Não me leves para o teu lado mau
Pois não era esse o lado que queria de ti
Se te digo entre aspas o que penso
Sabes que só te digo a ti…

Da voz, do eu, da minha razão

Da voz rouca, cansada e sem vida, não mais grita, não mais chora, apenas solta um lamento, sai lamúria de tormento, não existe salvação por sacramento pois não existe um deus, apenas múltiplos universos, compostos de infinitos… “eus”..!
Do eu que não mais sou, não fui mais, jamais serei, que não sei, como poderia algum dia compreender, ou esclarecer o que não posso sequer ver, que de querer, de tanto querer, apenas poder ver.
Já não sei, que rumo tomei, se lá chegarei, que sentido tomar e qual o sentido de tentar sem cessar, chegar… à razão..!
Da razão, não sei qual, sou folha de papel branco na agua cristalina, sou fruto perdido no vento louco, onde quer que vá cair, serei o que terei de ser, quando tiver de o ser… e por isso, já nem tento..!

O meu frio

O ar frio que me escapa a golfadas
Que de tão frigido sopro só podem nascer lágrimas geladas
Que nem lágrimas são, são restos, gotas de geada caída
Das invernadas passadas, queimadas
No ar seco que me escapa nas gargalhadas

Mas o frio que canto, pede calor
Calor que de tão quente, consiga calar este ardor que canta
Pensando que é frio de gelo, quando é rubra brasa
Do fogo apagado, mas não morto ainda
Nas pedras que choram ao vento, faça inverno, ou outono…

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Luta

Mais uma vez...

O grito agudo dentro da minha mente não morre
Levando-me a não ter mais mãos para tapar ouvidos
O tremor apodera-se doss meus braços sem aviso
Cortando-me todo o poder de manipular a vontade
É o som que penetra mais fundo adentro da alma
Partindo os espelhos em vidraça fina e cortante

Procurando as portas para a minha consciência
Buscando uma qualquer saída para o sonho acordado
Rasgando-me em pedaços para se libertar…
Bate como um martelo essa cabeça perdida no escuro
Fazendo até os meus olhos cerrar de dor e lágrimas
Quebrando-se o véu da sanidade…

Não mais ouço…
Não mais vejo…
Não mais sinto…

Será este o som da morte anunciada pelo anjo negro?
Será este o cantar das tropas do apocalipse?
Será este o bater dos tambores de guerra?
Será este o negro e eterno ébano?
Será este o arder do fogo infernal?
Será este o quebrar de todos os ossos?
Será este o momento…?

Será este o momento de soltar…?

Mais uma vez…?

A cruel besta em mim…?

Para simplesmente…

Sobreviver…

…?

quarta-feira, 11 de junho de 2008

A quem partiu

Quem passou, passou, não me viu, apenas foi
Porque sou aquele que não pode ser visto
Porque sou aquele que não deve ser olhado
Porque sou aquele que não é exemplo
Que passa, passa, não me vê, apenas vai

Quem ficou, ficou, não sabe, não vê, não escuta
Porque sou o erro de quem nada tinha para dar
Porque sou a fatalidade de quem tudo me deu
Porque sou o desespero de quem tentar amar
Quem ficou, ficou, nunca soube, viu nem escutou

Quem partiu, já não voltará, não mais, nunca mais
Porque sou sonho de quem ficou sem querer
Porque sou saudade de quem não quis ficar
Porque sou desejo de partir seguindo as estrelas
Quem partiu, partiu, encontrou um novo lugar

Eu… apenas fiquei…

terça-feira, 10 de junho de 2008

Deixa-me parar

O cansaço apodera-se do corpo moribundo
Hoje o tempo esvaiu-se de mim em passos
Digo mentiras à palavra “Suicídio” sorrindo
Seduzindo a morte, em brincadeira inocente

Serenamente vejo normalidade, no acto vão
Seguindo pegadas, de outros seres cegos
Encontro por vezes a paz de não cortar laços
Caminhos caídos do meu ser, tolo e perdido

Caído na estrada negra, que tracei a carvão
Apaguei o traço dos meus pés com fogo
Para matar a dor de fome e sede mais um vez
Perdida de mim para sempre, mas só hoje

E se te digo algum dia chorando lágrimas
“Amanha será melhor que hoje estou certo”
Enterra-me porque já estou a morrer de novo
E três pancadas não magoam muito mais

Porquê, mais que sofrer em vida terrena?
Levar o suplício para lá dos sete palmos
É não poder morrer de dor num ápice
Sendo obrigado a viver assim eternamente

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Dificuldades

À eterna frustração de ver e não agarrar
Chamo eu de permanente presença
Incapacidade total de ser por incompetência
Por incerteza de qualquer outra vontade
Não agarro, não por não poder agarrar…
Mas porque mesmo querendo…
Nunca quero agarrar…

Queria tanto, mas tanto mesmo…
Poder… só queria poder…

Ao acto tolo de ainda tentar ser o quero
Deixei eu de dar nomes, para não errar
Descontrolo por inércia do planeamento
Por suspensão do sentir, por receio de sair
Não sou, não por não querer ser…
Mas como nunca consigo…
Desisto sempre de ser…

Queria tanto, mesmo tanto, tanto…
Ser mais… só um pouco mais…

À constante consumição de desejar e não amar
Queria eu chamar de algo, para ter nome
Que não passa do desencontro completo do sentir
Por medo de um qualquer passado triste
Não amo, não por não querer amar…
Mas sim porque não posso…
Pois não sei como começar…

Queria tanto, tanto, tanto, tanto…
Amar… pura e simplesmente… amar…

domingo, 8 de junho de 2008

Sede de ser

Quero, porque quero, beber palavras de lábios alheios
Sempre o fiz, porque sempre o quis fazer, por isso
continuo a fazer
A sorver com toda a força cada palavra nova, de
almas desconhecidas
Até as conhecer, até não mais me saber, não ter mais
que sorver, que beber…

Sinto e sei bem que sinto, que já não me basta
ouvir em silêncio
Sempre ouvi, porque quase sempre quis escutar, mas quase
deixo de o fazer
Ao acto de absorver os sons, dos sonhos, das ilusões de almas que
já nem conheço
Até bem demais, até ficar saturado, não poder mais guardar
em mim, segredos…

Vou, sei e só eu sei que irei, que já não tenho aqui lugar
Sempre me acomodei, porque quase sempre tive espaço, mas
sinto-me apertado
Em lugares onde já não encaixo nem pensamento nem ideais, que
guardo em mim
Até tentei, vezes a mais, partir pedaços de mim para caber, mas
eu nunca pertenci

Nem agora… nem aqui…



______________________

PS: Existem pelo menos 3 maneiras de ler este poema,
sendo sempre o mesmo o seu sentido...
Se as encontrarem, avisem...

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Noite negra

Noite escura sem o meu olhar
Que sempre lanço sobre as paredes frias
Claustro cruel o da cegueira
Que nunca liberta quem mais precisa de ver
Sentimento sufocante do tentar
Que sorvendo forças do chão sujo sobrevivo...

Que miséria, que atroz verdade, que estúpido ser
Que o sou… porque o fui… não deixei de ser…

Deprimente raio de luz da manha
Que chega atrasado sobre o espelho na parede
Fenda no pensamento frio ao acordar
Que nasce do silencio mortal na noite negra
Se um dia encontro a chave
Que abre este quarto, não sei se chego a sair...

terça-feira, 3 de junho de 2008

Dia por nascer

Desperdiçar manhãs, a cada noite, gasta em sentimentos
Batidos pesares de alma impura, que me levam, longe demais
Que me levam constante e certamente, a correr os ventos vivos
Em busca de um utópico momento de paz, que não terei mais

Em cada aurora de dor, é desprezado o valor de uma madrugada
Cego, mais uma vez, outra vez, por cortes abruptos no olhar lavado
São ondas de lágrimas que me carregam sem qualquer destino
Não mais encontrarei as palavras para dizer: amor, não, talvez…

Perder o raiar de um Sol profundo, a cada acordar em loucura
Sonhos desligados de um ser, que se elevam tão alto, demais
Que se elevam, certeira e inevitavelmente, contra nuvens negras
Procurando num instante prometido, não dizer: nunca mais…

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Contradições

Como janelas abertas, despregadas a vento
Sem beira, sem tecto, sem paredes, sem amor
Braços soltos, abertos ao vento, mas pregados em janelas.

Preso, sonho liberdades em mundos meus
Solto-me, entrando mais fundo, em braços teus.

Como portas fechadas, fundidas a fogo
Com ferros, com pregos, com cravos, com força
Mãos cerradas, duras como pedra, mas ansiosas por calor.

Liberto, procuro prisões em braços teus
Prendo-me, caindo profundamente, em sonhos meus

Apenas não quero, beijos teus em lábios meus...
Mas a todo o momento tenho desejos teus...
Que são meus...

sexta-feira, 2 de maio de 2008

A lágrima derramada

Não quero que chores, não mereço
Quem te fez chorar? Não há direito
Esse já não sou eu, não reconheço
É apenas um reflexo, um inverso
Não existe perdão, se fiz, está feito
Espera-te o tudo, o nada, o universo
É parte do feitio, já não é só defeito
Não me chores então

Eu nunca fui perfeito…

___________________________

Palavras que alguem diria...

Não quero flores

Um dia cai na morte fria
Por momentos nada via
Se mais lutava, mais caía
Nada sentia
Nada tinha
Nada queria
Apenas sabia…
Que flores não queria…

Desde o dia em que, não mais levantei
Nunca mais ao teu lado me sentei
Num momento em que tudo lembrei
O calor das tuas mãos…
Não sentirei
Não falarei
Nada direi
Apenas sei
Flores, não quererei…

E quando o dia cai, noite se levanta
Meu anjo, de triste não mais canta
Amor puro de alma mais que santa
A morte que se abate, como manta
Na minha campa
Seja pedra, seja anta
Seja o que for…

Flores… nenhuma me encanta….

Aos portões

Aos portões da morte que me olham
Não atravessarei vossas barras como ar
Lutarei contra o bater do frio ferro
E sobre mim não fechará esse caixão

Às portas que os anjos guardam com a vida
Sem pedras sobre pedras, apenas mais ferro
Espinhos que me guardam de saltar, finalmente
Porque me chamam esses anjos, para esses portões?

Porque vejo apenas um velho corvo que chora…?

Porque tento tocar aquela estrela apagada…?

Porque entraste tu ai… onde eu não posso entrar…?

Como eu te adoro

Como me fazes falta nesta hora mal fadada
Meu mausoléu de profunda e sentida reflexão
Nos meus pensamentos negros e perdidos
Que só tu me deixas ter sobre ti…

Como te quero minha bela, minha adorada
Meu caixão de ideias mortas, sem ti, incompleto
Sem ti, para deixar tudo o que me mata na luz
Pois só tu, apenas tu, me podes carregar na noite

Oh, como és cheia de carícias e mimos doces
Que até meu rosto se cola em ti ternamente
E minhas mãos quase por ti entram se te agarro
Como és boa para mim, amada, minha almofada…

Tenho sono….

segunda-feira, 28 de abril de 2008

Olhos de loucura

Olhos loucos de sedução
Cegam qualquer força de mim
E chegando ao lar da minha loucura
Encontro mais uma vez o teu perfume
Num longo vislumbre
Ilusões que tive de ti
Um reflexo, partido em dois…

Com sete maneiras de me teres para ti
Perto das tuas doces mãos
Soubeste sempre prender-me em seis
Com a liberdade para te percorrer
Não me arrependo, mas pouco posso dar
Se não te posso dar uma única que falta
Pois deixei de te ver, amor…

Tiraste de mim desejo para viveres mais
Mataste até, para me coroar de louros
Nesse caminho torto de memorias
Encontraste sempre minha mão…

Sentimento que és morte entre duas vidas
Nada mais, nada menos, nada apenas
Nada para alem de mim, para carregar

Vida que não mais tenho em mim
Dei toda a que tinha a mais um romance
Mas se me dizes de novo aquelas palavras
Sofro, porque todos os dias, morro para as ouvir
Cruel sentir, razão que me consome inteiro

Nada é livre de retribuição no universo
E existem feridas que não podem sarar
Admito para mim e vivo esse martírio
Por isso fico… fico… apenas fico…

No mesmo pesadelo… de novo…

Túnel frio do sentir… para sempre…

Certo como a chuva… eterna…

Homem fraco… nunca mais…

A minha vida… fora das minhas mãos…

Sempre quebro a lança para não te matar
Pronto para te deixar avançar a passos
Pois dizes as doces palavras que quero ouvir
E a luxúria dos teus lábios consome-me
A consciência, a alma... Tudo!

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Adormecer pensando

Em eterno e constante conflito de ideais
Que não querendo, sempre pouco mais serão
Do que somente um sem igual do nada
Sem escolha de uma pequena e bonita ilusão
Que sem santos nem anjos apenas existem
Insistindo em força mas que no final, desistem

Quando se encontram, nas rochas do medo
Batem ondas de água lenta em cadência
Que partem barcos naufragados no penedo
Falta força para afundar a certa inocência
Atirando mortos para a cova, choro ou lamento
Sem encontrar a raiva ou louvor, apenas vento

Solitários loucos que se encontram unidos
Por em pensamento travarem luta perdida
À partida, já desistiram dos seus sentidos
Embrenhando por gruta por agua fendida
Escuro que esconde a despedida esperada
Toda a alma sem rumo, uma maré perdida

Fuga em cordas de violino para um céu caído
Ideias que não verás nas palavras de um qualquer
Todo som de choro, mais que inferno repetido
São estrelas apagadas que vão caindo sem querer
E não sonhar mais então neste vermelho entardecer
Pois tudo o que resta por hoje, será adormecer

Encosto meus olhos neles próprios sem pensar
Que descansem as feras do meu fogo apagado
Arrependimentos estes que carrego com pesar
Linhas desse vento que levam asas de pecado
Desejos em mim de plantar o mais belo jardim
Mas apenas carrego sementes de morte, em mim

Entrego-me então ao alívio de cerrar esse artigo
Que a luz está em hora de fugir deste rosto triste
E brancas serão as memórias de um mal antigo
Pois só fugindo do dia se resiste, luta, persiste
Ao canto terno de silencio e de uma ânsia letal
Sorvendo o veneno do sono, a cura da vida mortal

Boa noite…

Acordar da tempestade

Magoado, ferido e despido
Fico com olhos nos olhos
Espera só mais um minuto
Consegues ver o que a dor me faz?

Mas eu ainda estou vivo em bem vivo
O que tu consegues ver, eu vejo mais
E terás de pensar antes de falar
Estou vivo, não por ti
Estou acordado, não por ti
Estou vivo já te disse
Mas se desperto,
Consumo toda a tua alma!

Toma um segundo para ti
Vira-me as costas se te apraz
Finge para mim que vives feliz
E saberei que nunca viveste
Mesmo que penses que algo em ti morreu
Esse algo em mim nunca nasceu
O que tenho foi-me pregado a ferro
E é mais duro que o teu!

Espero então que não esperes mais
Por me expores, nu à tua chuva gélida
Saberás o que é o calor do fogo!
Vê como me afasto apenas um passo
No silêncio da tempestade que vai nascer
E teme o que sou quando acordo
Pois se acordo, encontrarás a tua morte!

Rosa nas cinzas

Torre e alma em mar aberto
Que deu luz ao lado negro do meu triste ser
Amor, droga que queima sem se tocar
Mas saberás tu
Que quando és tu
Meus olhos se abrem
E o quanto és tu
Tua claridade, tua doce liberdade

Serás sempre o beijo da rosa prometida
Que ficou em botão eternamente
E que não abri por medo da dor
Que todo o homem te dirá
Serás luz na sua campa
Oh rosa nas mãos do pecador

Que de vicio não te largo
E cravo teus espinhos em meus dedos
Errantes perdem o sentido
Fazendo tuas pétalas cair em choro
Sinto que terei de te soltar
Minha rosa
Não mais serás minha
E a tua luz voltará

Sonho constante

Ouço toda as cores
Escuto o que me dizem em tons
Saboreio cada som das palavras
A voz da alma canta para dentro

Que sonho
Todo o tempo
Profundamente no sono
Em expressões da mente
Manifestas em fantasia
Descobrirei então
Que iludidas mentes jamais acordam

Perdido numa mentira, uma ilusão
Nunca desperto
Vejo por olhos que não são meus, eternamente
E sei que todas as ilusões se desvanecem
Mas não liberto o frio do delírio

Saboreio enquanto sonho
Desejo mortal de ficar
Dentro do meu espírito eu sei por certo
Que sempre me conduzi para o infinito

Sonhando
Todo o tempo
Em inércia de pedra
Expressando os desejos pedidos
Apenas encontrarei
O que as mentes iludidas procuram
Sem acordar

Movimento súbito que me leva
Que estados subconscientes do desconhecido
Se perdem e a luz me mostra
Porque sempre sonhei de noite, e mais, e mais
Sei então que existe um caminho a percorrer

Acordarei…

terça-feira, 15 de abril de 2008

Jogos de pintura

Quando te pinto na minha pele, sem tinta, sem dedos
A toques de lamina fina e fria, ideias cortantes em mim
Sinto tuas cores e brilhos de vermelho e carmim rubro
Sei então, tenho a certeza, que te gerei e nada se cria

Destruo então todas as imagens que para ti fiz um dia
Os desenhos a tons secos de branco, negro e fogo vivo
Passo linhas na cinza apagada de uma tela que já não é
E encontro em letras perdidas o fim deste jogo cruel

Diluídos sentidos que procuram o papel e a salvação
Mãos estendidas em pedido derradeiro de mais vida
Que sorvendo visões de um apocalipse da mente livre
Pinto meus quadros, tu já não tens rosto, eu sou vazio…

Sei..? Não sei…

Sei, sei, sei que nada sei e nunca saberei…
Jamais saberei se alguma vez realmente amei… Não sei…
Não sei nem saberei se fui ou se fiquei… Não sei…
Porque parei..? Não sei, mas não amei nem fiquei… Não sei…
Se pareceu que fiquei, não sei, porque não amei..? Não sei…
Mas nunca amei, fiquei ou saberei… Não sei… não sei…

Agora e sempre

Sempre, agora e sempre...
Que em segundos apenas, perco-me da mente
Num minuto cesso o acto simples de ser gente
Apenas queimo em forma lenta de gelo ardente

Sempre, sempre, agora e sempre…
Que em tempos eras o meu frio quente
Num Outono sem regresso, por mais que tente
Apenas sinto o passado, mais ninguém sente

Sempre, ontem, agora e sempre…
Que em momentos que passei dormente
Num universo de forma, que só mente
Arrependo-me, nunca, agora e sempre…

quinta-feira, 27 de março de 2008

Negros pensamentos

Instintos caídos na escuridão de pensamentos negros e sem sentido de ser.

Não existo sem a ideia do meu ser como algo em formação contínua e paralela à destruição racional e descuidada de pedaços de alma perdidos. Tento não lembrar o facto de ser o que sou sem saber o que sou, sempre no desesperado grito mudo da solidão interna e impenetrável do homem que não sabe mais se é humano. Continuamente luto contra o animal crescente que se mostra em constelações alucinadas de ideias macabras que brilham a sadismo e crueldade fria. Mas a luta é vaga e desmotivante a cada segundo pois a vontade de uivar sobrepõe-se ao abafar do nevoeiro que crio aos olhos alheios de modo a esconder a imagem do ser selvagem que habita o coração indomado.

Não quero mais enganar-me sem motivo mas o assassino que reside dentro do meu casulo mental começa a ser mais forte que o protector da vida. Os meus ossos tremem de pensar como será o dia em que não conseguir reter tais instintos racionalmente e este louco que espreita entre as sombras se liberte, violando todas as regras irreversivelmente.

A agonia é constante, pois eu sou isto, sou um louco que quer matar a sangue frio, e um moralista que dá a vida para proteger o próximo. Tais extremos são cortantes, sangro-me em tentativa desesperada de expulsar o mal interno mas é impossível arrancar tamanha parte do meu inconsciente ser.

Só me resta fugir… gritar na solidão das árvores e correr para um local onde nada posso sofrer com a minha presença, apesar de fazer sofrer pela minha ausência todos os que me amam, apesar de tudo… amam-me… e eu faço-os sofrer…

terça-feira, 25 de março de 2008

...

Fora de serviço... indefinidamente....

sexta-feira, 14 de março de 2008

Momentos vagos (D'Aventura)

Aventuras que buscas em carinhos perdidos
Serão não mais que perdidos momentos
Como sempre soubeste que de nada valeria
Não podes afirmar que foste atraiçoada
Enquanto percorrias a par aquele trilho

Aventuras que encontraste entre aqueles degraus
Serão não mais que tristes escadas descendentes
Como passo em falso na estrada que não era
Não podes dizer que não te pudeste parar por ti
Enquanto teu coração corria, não o vias tu partir?


Aventuras que te fazem pensar o dia de hoje
Serão não mais que reflexos de um ontem
Como hora perdida em mar de fogo apagado
Não poderás ser mais inocente em teu caminho
Enquanto esperas aquela mão aberta…

Não cerres os dedos…

E desenterra o coração…

quinta-feira, 13 de março de 2008

Não me mandes calar!

Louco, estragado, irado e enraivecido!
Quero encontrar agora resposta única
Não quero que me tapes com reles túnica
Por doido que seja, não estou perdido!

Porque insistes tu em fazer de mim isto!
Quero agora os meus direitos de autor
Não quero que me roubes os meus planos
Lá por estar parado, não sou cego, assisto!

Escuta tudo de uma vez, não me cales, porra!
Se não queres ouvir enche antes os teus ouvidos
Não quero ter culpa nos erros dos teus sentidos
E não hei-de calar até que a tua raça morra!

terça-feira, 11 de março de 2008

Só eu sei

Só eu sei e apenas eu posso saber
Como é sonhar com meus olhos
Como é andar com meus pés
Só eu sei do meu profundo sofrer

Apenas vivo dentro do pensamento
Que é chorar escondido sem saber
Que é gritar ao vento sem ouvir
Apenas vivo para ser como o vento

Somente encontro palavras de dor
Como quem vê folhas no chão frio
Como quem sente neve nos dedos
Somente encontro gelo em teu redor

Simplesmente me deito aos pés da rocha
Assim em tom de quem se quer render
Assim em tom de quem quer desistir
Simplesmente por cansaço de quem chora

Monologo (Como falar comigo)

Para falar comigo preciso de me apresentar
Para conversar comigo preciso de me ver
Conhecendo-me como me conheço agora
Há diálogos cá dentro, em que até eu fico fora

Para me acompanhar preciso de correr mais
Para me seguir tenho de perguntar “onde vais?”
Caminhando como caminho ao longo da estrada
Mais vale nem tirar os pés do degrau da entrada

Para me sentar ao meu lado e escutar palavras
Para repousar no teu canto e ouvir minhas baladas
É para isso que vivo cada dia sem receio de viver
E nunca paro de me surpreender com a vida em mim

sábado, 1 de março de 2008

Curvas de mulher

Tentadoras formas tuas que não minhas

Se não era, não podia ser coração que tinhas

Que quando ias fingias sempre que vinhas

Não mais serias como mortal sumo das vinhas

-

Eras vinho tinto por entre meus brancos

Escorrias negra por entre teus prantos

Quando me recolhias em teus recantos

Docemente, invadindo-me com teus cantos

-

Fui tentado sem dó por tuas malditas curvas

Que sem pena me afogaste em aguas turvas

Sem pensares lançaste lampejo com as chuvas

E meu clamor nunca passou das palavras surdas

-

Enterrado na paixão de com força te defrontar

Escondido no desejo de jamais te decepcionar

Perdido na vontade de não mais voltar a amar

Vivo apenas mais um dia… para te encontrar.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Alma ardente

Nascido do fogo, às chamas retornado
Queimo-me, consumo-me e elevo-me
Atinjo temperaturas vulcânicas irreais
No âmago de chamas rubras, vejo-me

Perdido em brasas, em cinzas desfeito
Perfeito final, derradeiro testamento
Subo nos fumos do meu pensamento
Do carvão morto, nasce vivo pensamento

Soberbo espectáculo, crepitar de faíscas
Rebento, estoiro e sou brilho obscuro
Caio na terra do meu pesado lamento
De tanto arder, minhas feridas não curo

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

O enterro

O cortejo fúnebre de anjos carpindo
Por seu companheiro alado e caído
Que vivendo se condenou na morte
Que sonhando se afastou da mentira
Que mentindo acabou por dizer verdade

O crucifixo do condenado sem cabeça
Perdida por entre os sonhos de seu anjo
Que amando se condenou na vida
Que querendo se afastou da solidão
Que desejando acabou por sentir a verdade

As asas de uma amante em lágrimas
Voando até seu companheiro da noite
Que chorando se condenou na memoria
Que lamentando se afastou do dia
Que gritando acabou com sua própria vida…

Ouçam

Ouçam, a musica
O canto daquele vento
O cantar naqueles sons
O som do seu silencio
A melodia do seu cantar…

Ouçam, a minha voz
O eco das minhas palavras
O tom dos meus sussurros
O timbre dos meus segredos
A segurança no meu dizer…

Ouçam, o lamento do meu rio
O crepitar da agua lenta
O pesar no rochedo molhado
O sentido de uma corrente
A ponte que há entre nós…

Escutem…

Estas são as minhas palavras…

Dor metálica

A dor de estar preso entre folhas de aço frio
Compara-se ao sentimento de viver em gelo seco
Não se pode comparar a ser completo no seu brilho
Mas ser parte da própria prisão que nos encerra

Sobreviver entre sentimentos calejados e enrijecidos
Por tempos forjados, em brasa batidos e queimados
Mãos que dobram minha alma em elos retorcidos
Por mais cadeias que faça, acabam sempre perdidos

Guardo meus olhos em caixa de ferro negro e fogo
Entre chamas metálicas minhas lágrimas se sublimam
Teu sentir por mim para sempre fica marcado na pele
Mas o meu sentir de metal, é solidão e nada mais…

Olhos perfeitos

Linhas perfeitas as do teu olhar, que me presenteiam com formas vitruvianas de homem geométrico, mas às quais escapam meus sentidos incúriosos, desleixados e desinteressados.
Não mais me ligarei a outro ser com olhos como os que tu tens, não mais encontrarei nuvens e um céu escondidos em íris negra e não mais serei visto num mundo como o que criaste para mim.
Serei sempre fruto do teu olhar de criadora guardado em tela de memória, enquadrado num tempo que não voltará atrás, emoldurado em caixilho que jamais voltará a ser inteiro…
O nosso tempo para viver, esgotou-se por entre nossos dedos unidos… o nosso tempo de olhar os olhos do outro, escorreu por entre nossos lábios secos… o nosso tempo de sentir, evaporou-se com aquele ultimo vislumbre…

Duas raivas, um só grito

Duas raivas num mesmo grito
Uma vermelho, a outra sangue
Arrastadas por chão de vidros
Riscadas, desfiguradas, cortadas…

Duas caras num mesmo olhar
Uma negra, a outra noite
Pintadas por uma sombra de pano
Enegrecidas, assombradas, obscurecidas…

Dois olhos num mesmo rosto
Um aberto, o outro cerrado
Feridos por fumos perfumados
Sangrentos, desumanos, ferozes…

Uma alma em dois lugares
Um dentro, o outro fora
Dividida num corpo uno
Triste, solitária e simplesmente

Desesperada…

domingo, 17 de fevereiro de 2008

O outro lado do rio

Na margem oposta da travessia
Encontrei um dia a pedra basilar
O objecto que sustentará sobre as aguas
Todo o peso que o meu grito carrega
Mortal desejo de não sofrer...

Chorarei lágrimas de chuva
Sobre a ponte de pedra granito
Sei que lavarei a sua cor de cinza
Com o choro dos meus olhos
Que me escoa a magoa enfim...

Pouso as mãos de terra no rochedo
Por medo, por sombra, por caminho
Que só levando tudo isto para o mar
Serei um dia capaz de carregar
A dor de não amar…

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Guarda este silêncio

Não contes a alma alguma o que te ofereci naquela noite
Esconde entre teus lábios o recordar de tal momento
Serei a morte na tumba de palavras que tu nunca dirás
Pois não te ensinei verdade e não aprendeste mais que mentiras…

A fusão da tua mente com a ideia que te ofereci
Em momento algum a fez tua para a poderes dar e vender
Não te permito que sigas pelo caminho que te ensinei
Sem me pagares a travessia do meu rio de sangue e mar…

Sofri para encontrar os meus tesouros em terras desconhecidas
Naveguei por águas negras sem luz de lua ou de estrelas
Encontrei sem fogo o brilho do ouro mais puro e a dor mais fina
E agora desafio-te, tenta roubar-me o que eu tenho de mais duro…

Entra pela porta então, atreve-te em meu saber e enterra teus dedos
Aposta tuas mãos em meu cofre de espadas e saberemos
Se com tanto que sabes do que sou e do que não sou
Poderás salvar a tua alma, do meu cofre cheio de medos!

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Evangelho da nova génese

Num início distante, num tempo remoto, num espaço desconhecido, algo nasce e não mais pode ser finado… intemporal como as estações, começa a nossa história numa primavera…
Existe sim tal objecto, tal criação que sem mentor, sem artífice, sem projecto e sem executor, simplesmente, nasceu…
Ao raiar do verão deu-se conta que nasceu com braços de ferro forjado, bordados de platina e ouro como talha barroca que não se encontra.
Nasceu com pernas de vento que sem sopro e sem direcção tudo levam e tudo trazem, sendo como bênção para o seu povo…
Nasceu com um tronco de rocha, âmago de granito esculpido que jamais se abala, jamais se corrompe…
Nasceu como uma face de agua, mais limpa que cristal, mais saciante que vinho, mais pura que o céu e mais honesta que o mar…
Nasceu ainda com um coração de carne… e todo o resto se corrompeu com os anos...
Os braços de ferro tornaram-se frouxos, as pernas de vento pararam de correr os montes, o tronco de pedra tornou-se mole e o coração... esse foi banhado de ferro, encheu-se de vento e o seu bater, já não passava de um crepitar de areias agitadas no seu interior…

Envelhecemos, sonhamos, ficamos velhos, paramos de sonhar… o final… não tem de ser o fim… e os sonhos….
Esses, não têm qualquer idade….

Dá-me este prazer…

Diz-me… diz-me tudo o que em mim vês…
Tudo o que por teus olhos passa…
Eu e só eu quero saber!

Satisfaz a minha mais feroz curiosidade,
Aquela que apenas na água do rio bate,
Nas pedras do chão se lava
E no vento norte encontra saciedade…

Dá-me… dá-me apenas a mim
Todo o prazer do teu dialogo monótono…
Vende-me todas as tuas banalidades,
Todas as tuas futilidades a troco de um segredo meu…
Guarda então tudo que não me podes dizer
Para o brilho dos teus olhos…

Ou não me dês nada… se assim te apraz…
Mas não me deixes sem um qualquer conforto…

Aproxima-te e descreve-me em detalhe
Este rosto que tu e só tu podes ver
E eu, apenas eu, não posso reconhecer…

Retrata a tintas de óleo perfumado
Todo o esplendor bárbaro do rochedo
E não lhe passes qualquer verniz…

Por favor não me dispas da minha crueldade,
Pelo menos, não assim…

Olha-me… nem que seja pela derradeira vez,
Diz-me então se tens qualquer pena de mim…
Se tiveres… responde-me com um copo do teu melhor veneno…
Pois não te vou ouvir… mais vale então…
Morrer às tuas mãos…

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Ode das prostitutas a Jesus Cristo Salvador

Vinde nosso senhor
Mandais como vosso pai em nós sempre mandou
Caminhai sobre nossos leitos
Que neles algum filho de rei se deitou

Trazei-nos à luz oh salvador
Que trabalhar no escuro não é viver
E se assim desejares…
Seremos os teus sons abafados de prazer

Por todos os santos vinde logo!
Oh Deus teu pai, nosso senhor
Livrai-me para sempre dos pecados
Que me trazeis aquilo que não pode ser dor!

Pelos profetas acabai connosco!
Abatei sobre nós vosso favor
Que correm por nossos corpos
Suores e gritos de divino fervor!

Oh céus que não mais acaba
Que já não mais aguentamos
Não somos filhas de nenhum deus
Mas de nossos filhos todo mundo chama
E é de carne e sangue que carregamos

É então dado o momento
De morrer por vós neste sitio
Todas nós eternamente consoladas
Pois mesmo com vosso céu eterno
Bates assim nas portas do meu vicio!


Obscuramente

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Noites no Monte Lua…

Tecidos vulgares que te cobrem o olhar de lua
Como sombra no branco és luz no negro azul
Destacas cada detalhe por entre teu reflexo
E absorves cada pedaço do que apenas era meu
Observando as cores do que só eu vi

Destapam-se dois lençóis vestidos de gente
Como formas de pano entre verniz e madeira
Em leito de chão agarram ambas mãos
E a força surge sem se mostrar em mim
Como magia conjurada para o ser que és

Abre para mim toda o mistério da noite
Segura em ti os meus segredos mais loucos
Que louco sou eu por ter os teus também
E sem saber quanto valem estes para ti
Jamais saberei se serei eu realmente assim

Diz-me sempre o que vês no olhar de lobo
Guardado em mim para as noites de lua viva
Que brava espanta de mim todo o homem
E faz nascer de novo os ser dormente
Privado de desejo por outro qualquer ser

Morre para o mundo neste segundo cruel
É fel viver sem ter sonhos para voar
Que apenas os tolos voam sem sonhar
E se é tola a minha forma de te amar
Amando-te voarei para aquele cume…

O ritmo do mar…

Passo teus dedos na minha areia
Desenho teu rosto sem te olhar
Nos meus olhos vive o teu ser
Sendo como és verdadeiramente
Unicamente…

Sigo-te por aquela praia sem vento
Molho teu mar com o meu sal
Nas minhas lágrimas vive a tua dor
Sofrendo como só tu sofres hoje
Estupidamente…
.
Encontro-te cravada naquela rocha
Tento polir teu rosto até este surgir
Na minha tentativa de não mais sentir
Apago mais ainda o que só quero ver
Desesperadamente…

Deixo-te ir naquela onda perdida
Desfaço-me em areia molhada e solta
Num movimento sem sentido ou desejo
Desapareço em ti que és mar e céu
Finalmente…

Frutos da união

Que o meu povo nasça de uma dança
Que o teu mundo se parta no meu
Que o meu ser seja para sempre teu
E toda a vida recomece a nossos pés!

Escuta o som do vento nas minhas palavras
Escuta o cantar das ondas em teus pés
Escuta os passos do nosso andar
Lado a lado somos um universo só!

Sente como bate meu peito na tua mão
Sente como tua mão me agarra o coração
Sente como somos livres assim presos
Seremos sempre escravos de um amor!

Leva-me então oh alma que encontrei
Leva-me para onde me poderei perder
Leva-me sem sentido ou direcção
Pois sem ti não mais ficarei minha alma!

Para o meu sangue...

Naquele velho baloiço de pau
Em jardim anónimo e perdido
Escondidos por entre as pétalas
Daquela rosa sem sentido

Sentados a lado como duas cerejas
Somos fruto doce de sol poente
Vivemos em igualdade total
De quem não quer ser diferente

Irmã que partilhas de alma dura
Carregas em ti a semente original
A força para correr por esse rio
Toda tua alma é liberdade total

Pego em tua mão pela última vez
Liberto-te deste peso morto
Que sempre foi carregar em ti
As falhas do ser horrendo
Que sempre em mim senti

Sê feliz minha criança adorada
Já não tenho mais medo por ti
Sei que és mais forte e maior
Que alguma vez eu serei aqui
Neste mundo menor...

Sem ideias para um poema…

Sem palavras para te escrever e descrever o que sinto…

Sem sentimentos racionais que cheguem ao que realmente sinto…

Conto apenas com o instinto magnético que me chama para ti como uma labareda saída de uma alma incandescente. Sim és tu que procuro nos lençóis no escuro dos tecidos fechados sobre mim mas que só me soltam a alma em sonhos que forçam e reforçam sentimentos da carne que só a mente recebe e percebe…

Não te encontro nos meus dedos… e só ai te queria… dentro das minhas mãos para te sorver a vida dos lábios e beber sangue das tuas palavras…

Não te quero onde estás… mas só ai te encontro…

Não te sinto como és… mas só assim te sinto…

Autópsia...

A autópsia mental continua e sequencial da anatomia dos sentimentos desposados de seus ossos e músculos, moles, flácidos, nojentos, sebosos e flácidos revelam as conclusões de um louco sobre a racionalidade… ser racional não é uma capacidade humana exclusiva e sumariamente definidora do ser orgânico que desenvolveu sinapses milhentas vezes mais rápidas que os chamados animais… mas será que perder o sentido da palavra animal serve a humanidade de modo algum...?

Vejo olhos de fogo e outros de agua, narizes tortos e outros que não cheiram, vejo bocas fechadas que ferem com o silencio e bocas abertas das quais apenas sai o expoente da inutilidade mais fútil e o reminiscente do génio perdido… vejo amores desfeitos que jamais nasceram realmente e paixões duras de pedra que se liquefazem no gelo dos olhares soltos e almas livres da prisão libertadora que é o amar sem condições e sem condições para amar…

Abro a pele com uma lamina e tento ver se é de sangue que a minha carne está carregada e se o vermelho não é apenas uma criação da minha mente condicionada… vejo o final da pele e não vou mais fundo… sei que é verdade… sei que a dor é a realidade naquele momento… num impulso de momentos tão curtos que me faz cortar mais um pouco… já fui fundo demais… já vi o que está dentro de mim… o mistério anatómico do amor está quase desfeito… a sua química equacionada e a física da atracção dos corpos materializada num calculo rudimentar da probabilidade de ter ou não ter o objecto do desejo que nasce sem mostras de proveito… sem promessa…

Como posso ser assim frio…?

Como posso ligar o mais inóspito do ser… o inatingível por palavras num texto… o sentimento sem sentido que afoga os sentidos…?

É simples para mim… é a minha protecção e a minha barreira cefálica fora da caixa craniana, invisível e intocável para a maioria…


Odeio quem ama por pena…

Detesto quem se apaixona por quem tem pena de si…

Abomino o amor proibido…

Vomito gargalhadas para quem nega o corpo…

Quero ver morrer todos os que vivem para amar por amar e nunca amam… mas sim magoam…

E sim… já o fiz… tudo… mas não me odeio… Evoluo!



Boa noite… para ti e só para ti…

Harmonia Diabólica...

Imaginem por uns segundos apenas, que neste instante existe equilibrio…

O nome desta imagem de mim é Harmonia Diabólica...
Não poderia ter outro nome...
Pois toda a harmonia é falsa e apenas aparente...
Pois aquilo que chamamos de harmonia é aquilo que consideramos equilíbrio...
Mas tal equilíbrio nunca existe nem jamais existirá...
Pela simples razão de que se tal acontecimento ocorresse...
Tudo pararia...
O ciclo estaria completo...
Já não haveria mais sentido para existir...

A harmonia deve ser considerada o acto de tentar equilibrar...
E não o equilíbrio...
Tal como a palavra o diz...
Harmonia é algo rítmico e musical...
Algo que acontece suavemente...
Uma tentativa de atingir o equilíbrio que se dá levemente...

Ao haver falta de algo...
Esta falta irá ser compensada...
Essa compensação tentará atingir um equilíbrio...
Mas tal estado não seria possível...
Por isso a harmonia é o contínuo processo de aproximação a perfeição...
Ao equilíbrio supremo...
E sempre que ocorrer essa aproximação harmonia...
Uma tentativa rítmica de tocar a perfeição derradeira...
Sempre que isso acontece algo é descompensado...
Para compensar outro sistema...
Mas ao roubar os outros para aproximar um sistema da perfeição...
Vai desequilibra-los...
Vai deixa-los fragilizados...
Por vezes destrói-os...
É por isso que a minha cabeça é assim...
Um sistema frágil...
descompensado...
Que balança...
E por vezes para compensar uma emoção forte perco uma parte da minha estabilidade...
É então que a minha mente balança...
Como uma vaso numa prateleira...
Prestes a cair...
Tocando as barreiras da sanidade...
Indo até as fronteiras da loucura...

Por duas vezes cai no abismo...
Pois o desequilíbrio provocado pela falta de emoções após um turbilhão de sentimentos fulminantes criou em mim um balanço tremendo...
Por duas vezes vi a minha alma partir-se ao tocar no fundo...
Ao cair desamparada...
Devido a esta harmonia diabólica que me obriga a balançar...
Mas não é capaz de me equilibrar...
Que apenas me faz mover como um copo prestes a cair de uma mesa...
rodando...
balançando...
E finalmente caindo no vazio...

O meu desespero vem da simples ideia de não voltar a cair...
E o que fazer para que isso não suceda...
Mas o que fazer..?
Deixar de sentir para não desequilibrar mais a minha alma..?
Não sentir tão intensamente..?

Mas isso não me é possível...
Pois não consigo comandar assim os meus sentimentos...
Pois estes não são só meus...
São também de quem os faz nascer em mim...
Sejam eles de raiva ou de amor...

Por isso...
A única resposta a minha pergunta é que devo continuar a levantar-me depois de cair...
Devo continuar a procurar o meu equilíbrio...
Continuar a mercê desta Harmonia Diabólica...

Luz vaga...

Uma rua à luz fraca e distorcida de um candeeiro...

É esta a representação do que eu sinto por vezes...
Uma visão distorcida da escuridão que me envolve...
Apesar de poder ver uma ténue luz...
Não me apercebo do resto do caminho...
Do resto da minha vida...
Tudo me parece desfocado...
estranho...
vibrante...
desconhecido...
irreal...
Por vezes estúpido...
Sinto-me idiota por não ter a capacidade de sentir o que me envolve...
E compreender o que as formas significam...
Os sinais que o mundo me indica parecem ser escritos numa língua há muito extinta...
Que mais ninguém sabe ler...
Ou falar...
Que pessoa alguma algum dia será capaz de interpretar e me indicar o caminho que nela se esconde...
A minha alma é desconhecida para mim...
Ando a deriva...
solto...
desnorteado...
Apenas vejo alguma luz...
Algo que identifico tenuemente como uma luz...
Já não sei...
Tudo me parece tão toldado por esta incompreensão...
Por esta ignorância quanto ao meu próprio ser...
Não entendo a maioria dos meus impulsos...
Não percebo o porquê das minhas acções...
Não sei porque sou assim...
Não sei porque me vejo assim...
E não faço ideia do que os outros vêem em mim...
Deixei de confiar nos meus instintos por momentos...
Achei-os estúpidos...
Sem filosofia...
Sem conhecimento...
Apenas acção do instinto...
Mas estava enganado ao nega-los...
Pois eles nasceram comigo foi para me guiar nestas horas em que me encontro perdido de mim mesmo...
Tal como na questão física...
Quando nos faltam os olhos...
Continuamos a poder cheirar...
ouvir...
Sentir na pele...
Sentir o sabor...
A nossa mente tem o instinto...
Para substituir uma mente confusa...
Quando o pensamento fica bloqueado...
E não somos mais capazes de manter um raciocínio...
É nesse momento que o nosso instinto intervém...
O nosso corpo protege a nossa alma...
Sacrificando-se por vezes...
Instintivamente somos estúpidos...
Para prevenir que a nossa alma siga caminhos que levam a destruição...
Cometemos erros...
Tanto nas coisas boas...
Como nas más...
Deixamos de poder ser perfeitos em algo...
Para não irmos para uma direcção apenas...
Para nos manter-mos no meio do caminho...
E seguir-mos em frente...
Pois se fizermos uma curva de 90º a direita ou a esquerda...
É nesse momento que ficamos presos a um destino ao qual não escapamos...
E perdemos a hipótese de escolher outro...
Tudo isto porque o nosso instinto nos proíbe de ser bons...
Ou de ser maus...
E aqueles que engolem o instinto...
Acabam por escolher um destino errado por vezes...
Mas também não podemos entregar-nos ao destino...
Sem luta...
Sem resistência...
Isso seria seguir sempre por uma estrada sem um final...
Há que saber onde virar...
Que curvas dobrar...
Que destino se sonha para nós próprios...
É preciso saber...
É preciso conhecermo-nos...
Saber quem somos...
Antes de tentar saber o que seremos...
Mas como já disse...
Eu não sei o que sou...
Ainda não...
Ainda não tenho a capacidade de ver...
De interpretar os sinais...
De seguir as linhas traçadas para mim...
Apenas tenho um desejo profundo de encontrar o meu destino...
De chegar ao lugar onde pertenço...
E encontrar algo parecido ao que chamam de felicidade...
E talvez...
Talvez até ser um pouco feliz no fim de tudo...

Apenas pedaços de jornal…

Não serão pedaços de letras a completar as tuas palavras, os teus pensamentos, os teus sentidos quebrados e por concluir, de evolução estranha que não compreendes em ti e não entendes na globalidade do ser que não é, não pode ser, é demasiado fantasioso e sonhado…

As palavras não beijam… sílabas que não tocam a pele… letras que não largam os sentidos para te atingir…

Por mais palavras que solte e por mais que queime os teus ouvidos com o fogo da minha língua nunca serás minha….


Foge borboleta… voa… pois minhas mãos de bestas esmagam tuas asas… e nada te posso dar… não me obrigues a gritar… não me ponhas de joelhos a segurar-te na ponta dos dedos…

Quero-te entre pedaços de frases, quero-te entre palavras adocicadas, mas não te quero se não te puder ter entre meus braços…


Sofro… mas não choro…


Olhos secos… raiva contida na falta de amor…


Ser bem querido e mal amado num mundo de almas perdidas…

Destino poético… fado de excomunhão desse sangue morno e corpo quente… a alma é fria… e já não suporto não sentir a tua pele…


Escuro este quarto sem ti… impuro me encontro… neste ambiente de fumos de tabaco… sou cego… pois não te vejo…

Rochedo que choras…

Dizem que os objectos não choram...
Que não sentem...

Mas eu digo que cada criação tem o sentimento do seu criador...

Já não acredito em deus...
Como poderia...
Apenas acredito que na natureza nada se cria...
Apenas muda de forma...
E o único criador é o ser humano...
Ao moldar o mundo a sua volta...
Segundo o seu egoísta desejo...
Mudando tudo em seu redor e tornando o mundo em algo que eu já não sei se é o melhor para ele mesmo...
Apenas vejo que as criações humanas ultrapassam os limites do ridículo por vezes...
Outras vezes tocam o derradeiro divino...
Como na mesma espécie pode haver tal variedade...
Uns seres criarem uma obra-prima, arte de beleza infinita...
E outros criarem apenas conflitos e guerras para seu proveito...
Ou apenas por estupidez...
Como pode um génio partilhar com um inermemente os mesmos olhos...
As mesmas pernas...
Os mesmos braços...
A mesma pele...

Apenas me conforto com a ideia de poder ver ainda coisas imutáveis...
Poder sentir o cheiro das árvores ainda...
O cheiro da terra...
O som dos pássaros...
O toque da agua do rio...
Mas também sei que sou afortunado por poder sentir isto...

Hoje quando acordei não fui capaz de dizer uma única palavra até este momento...
Apenas sinto um vazio em mim...
Pois vejo um mundo sem motivo ao acordar...
Saio dos meus sonhos sem sonhos e não consigo sonhar...
Não consigo ver-me para alem do hoje...
Não vejo futuro...
Já não há futuro para mim...
Apenas vivo um dia de cada vez...
sofrendo...
aguentando...
Sem pensar no que virá...
Para assim poder aproveitar cada pequena coisa que me acontece de bom...
E não sofrer com o mal antes de este me acontecer...

Esta estatua tem o sentimento do seu criador...
Este pedaço de mármore chora...
Chora como o seu criador...
Pois ele chora pelo mundo...
Porque o mundo, tal como a mim, o magoa por dentro...
O facto de ter de viver mais um dia...
Mais um dia de sofrimento...
Mais um dia a ver a miséria...
A decadência...
A falta presente de um futuro...
Mais um dia neste mundo que faz até uma rocha chorar...

Maléfico pensamento

Memoria profética de um momento sagaz, audaz na rigidez do aço na ponta da lança, no cume da língua fervilhando de sons mudos na efervescência do ser cortante nos gumes extremos da heresia amorosa, apaixonadamente odioso para com o mundo e sedutor dos malefícios e incumbências desnecessárias, dos ofícios rebeldes, inutilidades do falso acto de ser não sendo e não querendo ser o que se é. A negação quase continua de tão intermitente na transmissão de cadeias sequenciais em formula magica de loucura mundana a partir do momento em que o teclado é activado na tecla “Delete” em tom de apagar e em força de eliminar sem rasto tudo o que em mim, em nós foi ser vivente e pujante sem barreiras ou grilhões.
Mas que digo eu afinal!?

Estou estúpido de tanto acontecimento que me passa pelos olhos e não pelas mãos, fugindo do controlo mas desafiando-me com soluções finas que mal se podem ver mas que cortam de tão ténue toque deixarem para trás quando acariciam a superfície suada da minha testa irracional….


Quero parar de pensar!


Tenho de parar de pensar…. Os pensamentos são demasiados, massa volúmica de incompreensão que testemunha a minha incapacidade de acomodar as transformações, mutações das percepções sujeitas a radiações intensivas e extensas na luz vermelha do nosso olhar…

A minha mente tóxica envenena-me cada dia mais e mais e mais e mais!

O antídoto é impossível de fabricar e os analgésicos não aliviam a dor que escondo, só a que mostro sem querer…

A tortura dos anjos...

Quando tudo parece bem o mal cresce nas profundezas do ser... o equilíbrio fatal é certeiro e jamais se lhe pode escapar...

O ar é cortante nesta hora de pensamento mas a vida é curta e nem vale a pena respirar duas vezes para escrever isto... direi o que direi mais uma vez sem sentido... sem destino nos dedos escrevo, descrevo e transcrevo o que sinto ou talvez não sinta e finja sentir... na me cabe a mim dizer nem a outros descobrir a verdade por baixo e à frente das minhas palavras e sem demorar mais digo...

Digo que a morte dos anjos não está numa luta ou numa batalha... mas na imortalidade... no sentimento que a morte não chega e a vida já deixou de o ser...
Todo o tempo do mundo é tempo demais e eu já não quero viver mais... não sou anjo... não quero sê-lo... mas sinto que esta vida é demasiado longa...

Estou tão farto... tão exausto... tão cheio... tão enjoado de viver...

Mas a derradeira hora não chega... e eu não a farei chegar... não me cabe a mim acabar pois ainda nem comecei...

Sem rodeios... estou sem força para este mundo... sem tabu digo que não quero viver muito mais... Sem preconceito digo que estou sozinho... e sem magoa digo que nada deixo para trás...

Sem mais uma palavra... digo apenas... adeus...

Antes de ver a luz...

Antes de ver a luz...

Terás de morrer... pois a morte não é um antagonismo à vida... mas sim um complemento...

Antes do teu momento irás olhar o céu e perceber a dor dos que chamam o anjo negro para si...

A praga que te lanço é imortal contigo e apenas para ti! Sem sentimentos vais sentir o frio entrar nos ossos que carregas e a pele que tanto amas irá ser comida para vermes...
Queres beleza para ti? Sim eu sei que a queres... sei que apenas queres amar o belo para não te sentires tão feia... és muito feia... mas nada disso importa... nada disso importou para mim... até sentir por dentro a tua fome e quão inútil eu era... pois não te saciava....

Pois esta será a minha praga... morrerás cheia de coisas belas... belezas tão falsas como a tua língua... pois não sabes o que dizes e finges sem parar... nem paras para respirar.... Até o gesto que fazes ao abrir os lábios é falso...
Afogarte-ás em falsidade... e irás engolir tudo o que cuspiste para mim!

Sim será lindo ver-te morrer... definhar... e serei eu a cravar o ultimo prego da tua cruz... eu espero...


esperarei... paciente e imóvel... feio na verdade nojenta... e com olhos de droga irei estender-te a mão 3 vezes... para pedir... para ajudar... e para te matar...


Sou pedreiro das emoções... e farei a mais bela lapide para ti... simplesmente não terá o teu nome ou o dos teus... e será bela... uma pedra vazia e livre.... linda... fria....

E intocada...



Morre em paz minha pedra adorada... se conseguires....

Num único momento…

Parte-se uma lágrima
Nos meus dedos marcados
Deslizando em vidros quebrados
Pelas impressões digitais
Da minha não pessoa
A identidade que não se revela
Foge como agua
A tinta da minha cor
Nos sentimentos que não pegam
Na tela de emoções
Ainda branca
Preta no escuro
Perdida
Solitária que uiva
Morta que chora
E viva que grita
Num pranto desesperado
Cortado de dor
Doloroso e lacerado
Golpes que não saram
Sangue que já não escorre
Infecção nos nervos
Tremores sólidos
Sentido sem direcção
E direcções sem sentido
Vida que não é vida…

Desespero que leva a uma morte inevitável…

Sei quem és…

Sei quem és…


Sei o que fazes…
O teu tipo não me foge…
Pressinto o teu medo ao longe…
Sinto a raiva que tens a ti própria…
E sinto o temor que tens de mim…

Sei que és assim…
E sei que não és…
Sei o que tu não sabes…
Simplesmente sei…
Sei o teu ser em detalhe…
Como sei cada canto do meu quarto…

Não podes fugir…
E não te podes esconder…
Entrega-te…
Sofre comigo…
Morre nos meus braços…
E vive de novo…

Nasce mais uma vez…
Na ponta dos meus dedos…
Nos beijos dos meus lábios…
Vem… vem até mim…
Para mim…

Entrega-te num abraço…
Nestes braços…
Nos teus braços…
Abraça-me…
Leva-me…
Não fujas… nunca mais fujas de mim…

Preciso de ti…
Quero-te tanto que enlouqueço…
Morro… caio… enterro-me…
Não há bala nem lamina
Que acabe com essa dor…
É o mesmo que estar morto e viver a morte…

Fica só mais um minuto…
Mais um segundo…
Mais um momento…
Um presente…
Um futuro…
Fica comigo…
Para sempre…

Tu que és poesia…

Também eu quero ser poesia um dia... Atingir a perfeição no espírito humano e ser lembrado palavra por palavra por páginas soltas em todas as almas...
Cantar as minhas glórias fracassadas e os meus fracassos gloriosos...
Chorar os amores amados e as paixões odiosas assim como os ódios apaixonados que me puxam para a frente centímetro a centímetro quilómetros sem fim... arrastado pelo chão de navalhas como se arrasta um trapo pela terra e se pisa sem pensar que pode ter vida...
E eu tenho vida... eu sou o trapo vivo... o lixo que respira... a morte que nasce do nada para o todo... Eu sou a terra que se torna barro e o barro que se fez homem a imagem de si próprio tal como deus escultor e artesão de vidas, almas e espíritos sem fronteiras sem bandeiras, sem limites e sem nome...
Quero ser eu... o deus André que cria vida na sua vida e afasta a morte enquanto a segura com firmeza nos dedos sem se cansar e sem a deixar escapar das mãos ate ao ultimo suspiro ate ao ultimo bater de coração ate ao ultimo pensamento... ate ao ultimo sentido... eu seguro a morte junto da vida com todo o corpo num abraço junto-as e obrigo-as a amar-se... morte e vida repelem-se e lutam contra mim...
É essa a força de dois pólos que me faz viver a morte como filosofia de vida e morrer para a vida em meu redor... sou esquecido e afastado, cortado e queimado tal como membro a amputar ou tecido morto e eliminar... sou uma infecção mental para todos os que sentem a minha mente escapar-se-lhe entre os dedos ao ser tão escorregadia... a frustração de apanhar areia... os grãos tão pequenos dos meus sonhos e ideias que acabam por engolir os que me querem pisar sem precaução... sem caução... sem pagar o preço da minha vida e sem alugar a chave da minha mente... são esses que me batem nas portas da alma para entrar e me magoam por fora... Mas por dentro... hhaaaa... por dentro é tudo escuro e igual ao que sempre foi... negro e desarrumado... mas é nesta escuridão que eu fecho os olhos e descanso... e é nesta confusão em que eu mais depressa encontro o que procuro... pois tudo esta espalhado pelo chão... e não há nada que eu não alcance ao me baixar...
Ao voltar a terra...
ajoelhar-me...
Para pedir perdão a mim próprio...
É ao estar curvo...
Ao louvar a minha alma de deus...
É nesse momento de oração pagã que encontro um papel perdido com a resposta...
É no chão que encontro as minhas poesias perdidas... os meus papéis eternos... a minha escrita desvairada e os meus pensamentos mais perfeitos... puros... insanos... honestos... loucos... verdadeiros... macabros... límpidos... obscuros...

Eu sou eu... tu és poesia... tu és perfeita... e eu sou apenas... eu...

No inicio…

No início era vida
No início fui a vida
No início fui mais uma vida
Em princípio era actor
Em princípio era principal
Em princípio era único
Era vida e fui enterrado
Era amor e fui odiado
Era cuidado e não passei de um descuido
Sou um caminho sem sentido
Sou sentido sem pensamento
Sou miséria na fartura
Estou farto de ideias
Estou cheio de sonhos
Estou enjoado de saber
Estou morto de dúvida
Serei mais um nada
Serei mais um todo
Serei mais um nada no todo
E no fim serei resumo
E no fim gritarei
E no fim ouvirás
E no fim apenas será isso

O fim…