segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Noites no Monte Lua…

Tecidos vulgares que te cobrem o olhar de lua
Como sombra no branco és luz no negro azul
Destacas cada detalhe por entre teu reflexo
E absorves cada pedaço do que apenas era meu
Observando as cores do que só eu vi

Destapam-se dois lençóis vestidos de gente
Como formas de pano entre verniz e madeira
Em leito de chão agarram ambas mãos
E a força surge sem se mostrar em mim
Como magia conjurada para o ser que és

Abre para mim toda o mistério da noite
Segura em ti os meus segredos mais loucos
Que louco sou eu por ter os teus também
E sem saber quanto valem estes para ti
Jamais saberei se serei eu realmente assim

Diz-me sempre o que vês no olhar de lobo
Guardado em mim para as noites de lua viva
Que brava espanta de mim todo o homem
E faz nascer de novo os ser dormente
Privado de desejo por outro qualquer ser

Morre para o mundo neste segundo cruel
É fel viver sem ter sonhos para voar
Que apenas os tolos voam sem sonhar
E se é tola a minha forma de te amar
Amando-te voarei para aquele cume…

O ritmo do mar…

Passo teus dedos na minha areia
Desenho teu rosto sem te olhar
Nos meus olhos vive o teu ser
Sendo como és verdadeiramente
Unicamente…

Sigo-te por aquela praia sem vento
Molho teu mar com o meu sal
Nas minhas lágrimas vive a tua dor
Sofrendo como só tu sofres hoje
Estupidamente…
.
Encontro-te cravada naquela rocha
Tento polir teu rosto até este surgir
Na minha tentativa de não mais sentir
Apago mais ainda o que só quero ver
Desesperadamente…

Deixo-te ir naquela onda perdida
Desfaço-me em areia molhada e solta
Num movimento sem sentido ou desejo
Desapareço em ti que és mar e céu
Finalmente…

Frutos da união

Que o meu povo nasça de uma dança
Que o teu mundo se parta no meu
Que o meu ser seja para sempre teu
E toda a vida recomece a nossos pés!

Escuta o som do vento nas minhas palavras
Escuta o cantar das ondas em teus pés
Escuta os passos do nosso andar
Lado a lado somos um universo só!

Sente como bate meu peito na tua mão
Sente como tua mão me agarra o coração
Sente como somos livres assim presos
Seremos sempre escravos de um amor!

Leva-me então oh alma que encontrei
Leva-me para onde me poderei perder
Leva-me sem sentido ou direcção
Pois sem ti não mais ficarei minha alma!

Para o meu sangue...

Naquele velho baloiço de pau
Em jardim anónimo e perdido
Escondidos por entre as pétalas
Daquela rosa sem sentido

Sentados a lado como duas cerejas
Somos fruto doce de sol poente
Vivemos em igualdade total
De quem não quer ser diferente

Irmã que partilhas de alma dura
Carregas em ti a semente original
A força para correr por esse rio
Toda tua alma é liberdade total

Pego em tua mão pela última vez
Liberto-te deste peso morto
Que sempre foi carregar em ti
As falhas do ser horrendo
Que sempre em mim senti

Sê feliz minha criança adorada
Já não tenho mais medo por ti
Sei que és mais forte e maior
Que alguma vez eu serei aqui
Neste mundo menor...

Sem ideias para um poema…

Sem palavras para te escrever e descrever o que sinto…

Sem sentimentos racionais que cheguem ao que realmente sinto…

Conto apenas com o instinto magnético que me chama para ti como uma labareda saída de uma alma incandescente. Sim és tu que procuro nos lençóis no escuro dos tecidos fechados sobre mim mas que só me soltam a alma em sonhos que forçam e reforçam sentimentos da carne que só a mente recebe e percebe…

Não te encontro nos meus dedos… e só ai te queria… dentro das minhas mãos para te sorver a vida dos lábios e beber sangue das tuas palavras…

Não te quero onde estás… mas só ai te encontro…

Não te sinto como és… mas só assim te sinto…

Autópsia...

A autópsia mental continua e sequencial da anatomia dos sentimentos desposados de seus ossos e músculos, moles, flácidos, nojentos, sebosos e flácidos revelam as conclusões de um louco sobre a racionalidade… ser racional não é uma capacidade humana exclusiva e sumariamente definidora do ser orgânico que desenvolveu sinapses milhentas vezes mais rápidas que os chamados animais… mas será que perder o sentido da palavra animal serve a humanidade de modo algum...?

Vejo olhos de fogo e outros de agua, narizes tortos e outros que não cheiram, vejo bocas fechadas que ferem com o silencio e bocas abertas das quais apenas sai o expoente da inutilidade mais fútil e o reminiscente do génio perdido… vejo amores desfeitos que jamais nasceram realmente e paixões duras de pedra que se liquefazem no gelo dos olhares soltos e almas livres da prisão libertadora que é o amar sem condições e sem condições para amar…

Abro a pele com uma lamina e tento ver se é de sangue que a minha carne está carregada e se o vermelho não é apenas uma criação da minha mente condicionada… vejo o final da pele e não vou mais fundo… sei que é verdade… sei que a dor é a realidade naquele momento… num impulso de momentos tão curtos que me faz cortar mais um pouco… já fui fundo demais… já vi o que está dentro de mim… o mistério anatómico do amor está quase desfeito… a sua química equacionada e a física da atracção dos corpos materializada num calculo rudimentar da probabilidade de ter ou não ter o objecto do desejo que nasce sem mostras de proveito… sem promessa…

Como posso ser assim frio…?

Como posso ligar o mais inóspito do ser… o inatingível por palavras num texto… o sentimento sem sentido que afoga os sentidos…?

É simples para mim… é a minha protecção e a minha barreira cefálica fora da caixa craniana, invisível e intocável para a maioria…


Odeio quem ama por pena…

Detesto quem se apaixona por quem tem pena de si…

Abomino o amor proibido…

Vomito gargalhadas para quem nega o corpo…

Quero ver morrer todos os que vivem para amar por amar e nunca amam… mas sim magoam…

E sim… já o fiz… tudo… mas não me odeio… Evoluo!



Boa noite… para ti e só para ti…

Harmonia Diabólica...

Imaginem por uns segundos apenas, que neste instante existe equilibrio…

O nome desta imagem de mim é Harmonia Diabólica...
Não poderia ter outro nome...
Pois toda a harmonia é falsa e apenas aparente...
Pois aquilo que chamamos de harmonia é aquilo que consideramos equilíbrio...
Mas tal equilíbrio nunca existe nem jamais existirá...
Pela simples razão de que se tal acontecimento ocorresse...
Tudo pararia...
O ciclo estaria completo...
Já não haveria mais sentido para existir...

A harmonia deve ser considerada o acto de tentar equilibrar...
E não o equilíbrio...
Tal como a palavra o diz...
Harmonia é algo rítmico e musical...
Algo que acontece suavemente...
Uma tentativa de atingir o equilíbrio que se dá levemente...

Ao haver falta de algo...
Esta falta irá ser compensada...
Essa compensação tentará atingir um equilíbrio...
Mas tal estado não seria possível...
Por isso a harmonia é o contínuo processo de aproximação a perfeição...
Ao equilíbrio supremo...
E sempre que ocorrer essa aproximação harmonia...
Uma tentativa rítmica de tocar a perfeição derradeira...
Sempre que isso acontece algo é descompensado...
Para compensar outro sistema...
Mas ao roubar os outros para aproximar um sistema da perfeição...
Vai desequilibra-los...
Vai deixa-los fragilizados...
Por vezes destrói-os...
É por isso que a minha cabeça é assim...
Um sistema frágil...
descompensado...
Que balança...
E por vezes para compensar uma emoção forte perco uma parte da minha estabilidade...
É então que a minha mente balança...
Como uma vaso numa prateleira...
Prestes a cair...
Tocando as barreiras da sanidade...
Indo até as fronteiras da loucura...

Por duas vezes cai no abismo...
Pois o desequilíbrio provocado pela falta de emoções após um turbilhão de sentimentos fulminantes criou em mim um balanço tremendo...
Por duas vezes vi a minha alma partir-se ao tocar no fundo...
Ao cair desamparada...
Devido a esta harmonia diabólica que me obriga a balançar...
Mas não é capaz de me equilibrar...
Que apenas me faz mover como um copo prestes a cair de uma mesa...
rodando...
balançando...
E finalmente caindo no vazio...

O meu desespero vem da simples ideia de não voltar a cair...
E o que fazer para que isso não suceda...
Mas o que fazer..?
Deixar de sentir para não desequilibrar mais a minha alma..?
Não sentir tão intensamente..?

Mas isso não me é possível...
Pois não consigo comandar assim os meus sentimentos...
Pois estes não são só meus...
São também de quem os faz nascer em mim...
Sejam eles de raiva ou de amor...

Por isso...
A única resposta a minha pergunta é que devo continuar a levantar-me depois de cair...
Devo continuar a procurar o meu equilíbrio...
Continuar a mercê desta Harmonia Diabólica...

Luz vaga...

Uma rua à luz fraca e distorcida de um candeeiro...

É esta a representação do que eu sinto por vezes...
Uma visão distorcida da escuridão que me envolve...
Apesar de poder ver uma ténue luz...
Não me apercebo do resto do caminho...
Do resto da minha vida...
Tudo me parece desfocado...
estranho...
vibrante...
desconhecido...
irreal...
Por vezes estúpido...
Sinto-me idiota por não ter a capacidade de sentir o que me envolve...
E compreender o que as formas significam...
Os sinais que o mundo me indica parecem ser escritos numa língua há muito extinta...
Que mais ninguém sabe ler...
Ou falar...
Que pessoa alguma algum dia será capaz de interpretar e me indicar o caminho que nela se esconde...
A minha alma é desconhecida para mim...
Ando a deriva...
solto...
desnorteado...
Apenas vejo alguma luz...
Algo que identifico tenuemente como uma luz...
Já não sei...
Tudo me parece tão toldado por esta incompreensão...
Por esta ignorância quanto ao meu próprio ser...
Não entendo a maioria dos meus impulsos...
Não percebo o porquê das minhas acções...
Não sei porque sou assim...
Não sei porque me vejo assim...
E não faço ideia do que os outros vêem em mim...
Deixei de confiar nos meus instintos por momentos...
Achei-os estúpidos...
Sem filosofia...
Sem conhecimento...
Apenas acção do instinto...
Mas estava enganado ao nega-los...
Pois eles nasceram comigo foi para me guiar nestas horas em que me encontro perdido de mim mesmo...
Tal como na questão física...
Quando nos faltam os olhos...
Continuamos a poder cheirar...
ouvir...
Sentir na pele...
Sentir o sabor...
A nossa mente tem o instinto...
Para substituir uma mente confusa...
Quando o pensamento fica bloqueado...
E não somos mais capazes de manter um raciocínio...
É nesse momento que o nosso instinto intervém...
O nosso corpo protege a nossa alma...
Sacrificando-se por vezes...
Instintivamente somos estúpidos...
Para prevenir que a nossa alma siga caminhos que levam a destruição...
Cometemos erros...
Tanto nas coisas boas...
Como nas más...
Deixamos de poder ser perfeitos em algo...
Para não irmos para uma direcção apenas...
Para nos manter-mos no meio do caminho...
E seguir-mos em frente...
Pois se fizermos uma curva de 90º a direita ou a esquerda...
É nesse momento que ficamos presos a um destino ao qual não escapamos...
E perdemos a hipótese de escolher outro...
Tudo isto porque o nosso instinto nos proíbe de ser bons...
Ou de ser maus...
E aqueles que engolem o instinto...
Acabam por escolher um destino errado por vezes...
Mas também não podemos entregar-nos ao destino...
Sem luta...
Sem resistência...
Isso seria seguir sempre por uma estrada sem um final...
Há que saber onde virar...
Que curvas dobrar...
Que destino se sonha para nós próprios...
É preciso saber...
É preciso conhecermo-nos...
Saber quem somos...
Antes de tentar saber o que seremos...
Mas como já disse...
Eu não sei o que sou...
Ainda não...
Ainda não tenho a capacidade de ver...
De interpretar os sinais...
De seguir as linhas traçadas para mim...
Apenas tenho um desejo profundo de encontrar o meu destino...
De chegar ao lugar onde pertenço...
E encontrar algo parecido ao que chamam de felicidade...
E talvez...
Talvez até ser um pouco feliz no fim de tudo...

Apenas pedaços de jornal…

Não serão pedaços de letras a completar as tuas palavras, os teus pensamentos, os teus sentidos quebrados e por concluir, de evolução estranha que não compreendes em ti e não entendes na globalidade do ser que não é, não pode ser, é demasiado fantasioso e sonhado…

As palavras não beijam… sílabas que não tocam a pele… letras que não largam os sentidos para te atingir…

Por mais palavras que solte e por mais que queime os teus ouvidos com o fogo da minha língua nunca serás minha….


Foge borboleta… voa… pois minhas mãos de bestas esmagam tuas asas… e nada te posso dar… não me obrigues a gritar… não me ponhas de joelhos a segurar-te na ponta dos dedos…

Quero-te entre pedaços de frases, quero-te entre palavras adocicadas, mas não te quero se não te puder ter entre meus braços…


Sofro… mas não choro…


Olhos secos… raiva contida na falta de amor…


Ser bem querido e mal amado num mundo de almas perdidas…

Destino poético… fado de excomunhão desse sangue morno e corpo quente… a alma é fria… e já não suporto não sentir a tua pele…


Escuro este quarto sem ti… impuro me encontro… neste ambiente de fumos de tabaco… sou cego… pois não te vejo…

Rochedo que choras…

Dizem que os objectos não choram...
Que não sentem...

Mas eu digo que cada criação tem o sentimento do seu criador...

Já não acredito em deus...
Como poderia...
Apenas acredito que na natureza nada se cria...
Apenas muda de forma...
E o único criador é o ser humano...
Ao moldar o mundo a sua volta...
Segundo o seu egoísta desejo...
Mudando tudo em seu redor e tornando o mundo em algo que eu já não sei se é o melhor para ele mesmo...
Apenas vejo que as criações humanas ultrapassam os limites do ridículo por vezes...
Outras vezes tocam o derradeiro divino...
Como na mesma espécie pode haver tal variedade...
Uns seres criarem uma obra-prima, arte de beleza infinita...
E outros criarem apenas conflitos e guerras para seu proveito...
Ou apenas por estupidez...
Como pode um génio partilhar com um inermemente os mesmos olhos...
As mesmas pernas...
Os mesmos braços...
A mesma pele...

Apenas me conforto com a ideia de poder ver ainda coisas imutáveis...
Poder sentir o cheiro das árvores ainda...
O cheiro da terra...
O som dos pássaros...
O toque da agua do rio...
Mas também sei que sou afortunado por poder sentir isto...

Hoje quando acordei não fui capaz de dizer uma única palavra até este momento...
Apenas sinto um vazio em mim...
Pois vejo um mundo sem motivo ao acordar...
Saio dos meus sonhos sem sonhos e não consigo sonhar...
Não consigo ver-me para alem do hoje...
Não vejo futuro...
Já não há futuro para mim...
Apenas vivo um dia de cada vez...
sofrendo...
aguentando...
Sem pensar no que virá...
Para assim poder aproveitar cada pequena coisa que me acontece de bom...
E não sofrer com o mal antes de este me acontecer...

Esta estatua tem o sentimento do seu criador...
Este pedaço de mármore chora...
Chora como o seu criador...
Pois ele chora pelo mundo...
Porque o mundo, tal como a mim, o magoa por dentro...
O facto de ter de viver mais um dia...
Mais um dia de sofrimento...
Mais um dia a ver a miséria...
A decadência...
A falta presente de um futuro...
Mais um dia neste mundo que faz até uma rocha chorar...

Maléfico pensamento

Memoria profética de um momento sagaz, audaz na rigidez do aço na ponta da lança, no cume da língua fervilhando de sons mudos na efervescência do ser cortante nos gumes extremos da heresia amorosa, apaixonadamente odioso para com o mundo e sedutor dos malefícios e incumbências desnecessárias, dos ofícios rebeldes, inutilidades do falso acto de ser não sendo e não querendo ser o que se é. A negação quase continua de tão intermitente na transmissão de cadeias sequenciais em formula magica de loucura mundana a partir do momento em que o teclado é activado na tecla “Delete” em tom de apagar e em força de eliminar sem rasto tudo o que em mim, em nós foi ser vivente e pujante sem barreiras ou grilhões.
Mas que digo eu afinal!?

Estou estúpido de tanto acontecimento que me passa pelos olhos e não pelas mãos, fugindo do controlo mas desafiando-me com soluções finas que mal se podem ver mas que cortam de tão ténue toque deixarem para trás quando acariciam a superfície suada da minha testa irracional….


Quero parar de pensar!


Tenho de parar de pensar…. Os pensamentos são demasiados, massa volúmica de incompreensão que testemunha a minha incapacidade de acomodar as transformações, mutações das percepções sujeitas a radiações intensivas e extensas na luz vermelha do nosso olhar…

A minha mente tóxica envenena-me cada dia mais e mais e mais e mais!

O antídoto é impossível de fabricar e os analgésicos não aliviam a dor que escondo, só a que mostro sem querer…

A tortura dos anjos...

Quando tudo parece bem o mal cresce nas profundezas do ser... o equilíbrio fatal é certeiro e jamais se lhe pode escapar...

O ar é cortante nesta hora de pensamento mas a vida é curta e nem vale a pena respirar duas vezes para escrever isto... direi o que direi mais uma vez sem sentido... sem destino nos dedos escrevo, descrevo e transcrevo o que sinto ou talvez não sinta e finja sentir... na me cabe a mim dizer nem a outros descobrir a verdade por baixo e à frente das minhas palavras e sem demorar mais digo...

Digo que a morte dos anjos não está numa luta ou numa batalha... mas na imortalidade... no sentimento que a morte não chega e a vida já deixou de o ser...
Todo o tempo do mundo é tempo demais e eu já não quero viver mais... não sou anjo... não quero sê-lo... mas sinto que esta vida é demasiado longa...

Estou tão farto... tão exausto... tão cheio... tão enjoado de viver...

Mas a derradeira hora não chega... e eu não a farei chegar... não me cabe a mim acabar pois ainda nem comecei...

Sem rodeios... estou sem força para este mundo... sem tabu digo que não quero viver muito mais... Sem preconceito digo que estou sozinho... e sem magoa digo que nada deixo para trás...

Sem mais uma palavra... digo apenas... adeus...

Antes de ver a luz...

Antes de ver a luz...

Terás de morrer... pois a morte não é um antagonismo à vida... mas sim um complemento...

Antes do teu momento irás olhar o céu e perceber a dor dos que chamam o anjo negro para si...

A praga que te lanço é imortal contigo e apenas para ti! Sem sentimentos vais sentir o frio entrar nos ossos que carregas e a pele que tanto amas irá ser comida para vermes...
Queres beleza para ti? Sim eu sei que a queres... sei que apenas queres amar o belo para não te sentires tão feia... és muito feia... mas nada disso importa... nada disso importou para mim... até sentir por dentro a tua fome e quão inútil eu era... pois não te saciava....

Pois esta será a minha praga... morrerás cheia de coisas belas... belezas tão falsas como a tua língua... pois não sabes o que dizes e finges sem parar... nem paras para respirar.... Até o gesto que fazes ao abrir os lábios é falso...
Afogarte-ás em falsidade... e irás engolir tudo o que cuspiste para mim!

Sim será lindo ver-te morrer... definhar... e serei eu a cravar o ultimo prego da tua cruz... eu espero...


esperarei... paciente e imóvel... feio na verdade nojenta... e com olhos de droga irei estender-te a mão 3 vezes... para pedir... para ajudar... e para te matar...


Sou pedreiro das emoções... e farei a mais bela lapide para ti... simplesmente não terá o teu nome ou o dos teus... e será bela... uma pedra vazia e livre.... linda... fria....

E intocada...



Morre em paz minha pedra adorada... se conseguires....

Num único momento…

Parte-se uma lágrima
Nos meus dedos marcados
Deslizando em vidros quebrados
Pelas impressões digitais
Da minha não pessoa
A identidade que não se revela
Foge como agua
A tinta da minha cor
Nos sentimentos que não pegam
Na tela de emoções
Ainda branca
Preta no escuro
Perdida
Solitária que uiva
Morta que chora
E viva que grita
Num pranto desesperado
Cortado de dor
Doloroso e lacerado
Golpes que não saram
Sangue que já não escorre
Infecção nos nervos
Tremores sólidos
Sentido sem direcção
E direcções sem sentido
Vida que não é vida…

Desespero que leva a uma morte inevitável…

Sei quem és…

Sei quem és…


Sei o que fazes…
O teu tipo não me foge…
Pressinto o teu medo ao longe…
Sinto a raiva que tens a ti própria…
E sinto o temor que tens de mim…

Sei que és assim…
E sei que não és…
Sei o que tu não sabes…
Simplesmente sei…
Sei o teu ser em detalhe…
Como sei cada canto do meu quarto…

Não podes fugir…
E não te podes esconder…
Entrega-te…
Sofre comigo…
Morre nos meus braços…
E vive de novo…

Nasce mais uma vez…
Na ponta dos meus dedos…
Nos beijos dos meus lábios…
Vem… vem até mim…
Para mim…

Entrega-te num abraço…
Nestes braços…
Nos teus braços…
Abraça-me…
Leva-me…
Não fujas… nunca mais fujas de mim…

Preciso de ti…
Quero-te tanto que enlouqueço…
Morro… caio… enterro-me…
Não há bala nem lamina
Que acabe com essa dor…
É o mesmo que estar morto e viver a morte…

Fica só mais um minuto…
Mais um segundo…
Mais um momento…
Um presente…
Um futuro…
Fica comigo…
Para sempre…

Tu que és poesia…

Também eu quero ser poesia um dia... Atingir a perfeição no espírito humano e ser lembrado palavra por palavra por páginas soltas em todas as almas...
Cantar as minhas glórias fracassadas e os meus fracassos gloriosos...
Chorar os amores amados e as paixões odiosas assim como os ódios apaixonados que me puxam para a frente centímetro a centímetro quilómetros sem fim... arrastado pelo chão de navalhas como se arrasta um trapo pela terra e se pisa sem pensar que pode ter vida...
E eu tenho vida... eu sou o trapo vivo... o lixo que respira... a morte que nasce do nada para o todo... Eu sou a terra que se torna barro e o barro que se fez homem a imagem de si próprio tal como deus escultor e artesão de vidas, almas e espíritos sem fronteiras sem bandeiras, sem limites e sem nome...
Quero ser eu... o deus André que cria vida na sua vida e afasta a morte enquanto a segura com firmeza nos dedos sem se cansar e sem a deixar escapar das mãos ate ao ultimo suspiro ate ao ultimo bater de coração ate ao ultimo pensamento... ate ao ultimo sentido... eu seguro a morte junto da vida com todo o corpo num abraço junto-as e obrigo-as a amar-se... morte e vida repelem-se e lutam contra mim...
É essa a força de dois pólos que me faz viver a morte como filosofia de vida e morrer para a vida em meu redor... sou esquecido e afastado, cortado e queimado tal como membro a amputar ou tecido morto e eliminar... sou uma infecção mental para todos os que sentem a minha mente escapar-se-lhe entre os dedos ao ser tão escorregadia... a frustração de apanhar areia... os grãos tão pequenos dos meus sonhos e ideias que acabam por engolir os que me querem pisar sem precaução... sem caução... sem pagar o preço da minha vida e sem alugar a chave da minha mente... são esses que me batem nas portas da alma para entrar e me magoam por fora... Mas por dentro... hhaaaa... por dentro é tudo escuro e igual ao que sempre foi... negro e desarrumado... mas é nesta escuridão que eu fecho os olhos e descanso... e é nesta confusão em que eu mais depressa encontro o que procuro... pois tudo esta espalhado pelo chão... e não há nada que eu não alcance ao me baixar...
Ao voltar a terra...
ajoelhar-me...
Para pedir perdão a mim próprio...
É ao estar curvo...
Ao louvar a minha alma de deus...
É nesse momento de oração pagã que encontro um papel perdido com a resposta...
É no chão que encontro as minhas poesias perdidas... os meus papéis eternos... a minha escrita desvairada e os meus pensamentos mais perfeitos... puros... insanos... honestos... loucos... verdadeiros... macabros... límpidos... obscuros...

Eu sou eu... tu és poesia... tu és perfeita... e eu sou apenas... eu...

No inicio…

No início era vida
No início fui a vida
No início fui mais uma vida
Em princípio era actor
Em princípio era principal
Em princípio era único
Era vida e fui enterrado
Era amor e fui odiado
Era cuidado e não passei de um descuido
Sou um caminho sem sentido
Sou sentido sem pensamento
Sou miséria na fartura
Estou farto de ideias
Estou cheio de sonhos
Estou enjoado de saber
Estou morto de dúvida
Serei mais um nada
Serei mais um todo
Serei mais um nada no todo
E no fim serei resumo
E no fim gritarei
E no fim ouvirás
E no fim apenas será isso

O fim…