segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Claustro

O branco imundo das marcas digitais
De tanto tactear por uma qualquer saída
Onde corra ar menos carbonizado, mais vivo
Que eu possa inspirar, por fim, enfim…

Ângulos fechados da superfície lisa
Já nem sinto a textura na ponta dos dedos
O negro vazio de estar aprisionado
Leva-me toda a vontade de simplesmente ser

Quanto mais penso, menos posso existir
Logo sinto falta de poder apenas sentir
Pois só quem sente pode realmente afirmar-se
Como existência completa neste mundo

Mas não desisti, ainda, sem parar de todo
Pensando quieto não poderei atingir nada
E tenho então de sair para sentir de novo
A dor que me diz “Tu existes para me sentir!”

Flor do Deserto

Vento poente que me carregas a alma
Para longe de magoas, de solidão
Trazes contigo o murmúrio das folhas
Cheiro de água, que não me lava do passado

És lamento dos meus próprios pecados
Aqueles que não cometi mas carrego
Porque nasci da terra manchada de sangue
Para ser vida imaculada, e não morte, que sou

Sou arrependimento de quem me ousa amar
Pois não dou os frutos que prometi em flor
Tantos são os espinhos em meu redor
Que nem as cores das pétalas que invento
Podem ser vistas entre entrançados de dor

Prisão emaranhada de complexidades
Adversidades, excentricidades, infelicidades
Não sei porque ainda cai esta pouca chuva
Se é apenas deserto e morte que vejo
Em redor deste ser que murchou e secou…

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Porque choras pequeno anjo?

Diz-me o porquê dessa tua magoa…
Descreve a tua angústia, mas apenas a verdade…
E desenha-me em azul e preto o teu céu da noite…
Quero saber os motivos do teu sofrer…

Quero que me digas, são sempre assim
Tão profundas tuas lágrimas ao adormecer?
E, porque pintas de sangue carmim
O mesmo chão em que te ajoelhas?

Segreda-me baixinho, quem não te ama…?
Grita-me bem alto, quem amas tu…?
Apenas para um dia eu poder dizer
Se é duvida ou certeza que vive em ti
Pequeno anjo…

Traça em todos os mapas os teus caminhos
Para que eu possa sentir os teus passos
Pois se eu olhar um dia e vir o que tu vês
Seremos então, um pensamento a dois…
E eu entenderei…

Porque choras tu, pequeno anjo…

Lua Negra

Como flor perfeita em jardim de espinhos
Nascida a sabor de ventos, por selvagem desejo
Como vida desfeita entre mortos caminhos
Encontro-te em mim, mas não te vejo…

Queria ter força, não ser fraco assim
Querida flor ao sabor do verão triste
Encontro em mim apenas palavras de adeus
Unicamente, quero que não percas a tua fé

Soubesse eu cantar o que anseio gritar
E tudo seria céu sem nuvens negras
Mas em dias de eclipse, luz morta em mim
Não sei pedir a esta lua negra que me deixe
E eu não sei, nunca soube, como viver assim…