sábado, 17 de abril de 2010

Distanciamento

Tenho olhos como um lobo
De luz vermelha, cor da alvorada
Vejo no breu as horas no relógio gasto
Poeira nas arestas, vidraça quebrada
De números caídos, 45 da noite
E penso em uivar…

Tenho os pés de um viajante
Calos que desceram o Norte, até Poente
Ando pelo escuro seguindo apenas o cheiro
Do orvalho que me diz tão claramente
Que no relógio são 67 da madrugada
E penso em me esconder…

Tenho numa alma passageira
Memórias que cortam qual faca amolada
Sinto-me então, calma, conscientemente
Absorver a primeira luz que raia abrasada
Em muito tempo, são 83 da manhã
E recordo-me…

O meu lugar não é aqui…
E não dormi mais esta noite…
Pois sem que desse conta, estou já
No dia de amanhã…


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Nota: "45 da noite" é uma figura de estilo criada originalmente por António Lobo Antunes, que serve o proposito de codificar as horas, no entanto basta que se leia, 4 horas e o numero 5, que corresponde a 25 minutos para obter a hora. Os restantes numeros seguem a mesma linha de pensamento.

1 comentário:

Pandora Lupé disse...

todos os viajantantes precisam de um canto onde possam voltar ao fim de cada caminhada...
gostei**beijo