Tenho olhos como um lobo
De luz vermelha, cor da alvorada
Vejo no breu as horas no relógio gasto
Poeira nas arestas, vidraça quebrada
De números caídos, 45 da noite
E penso em uivar…
Tenho os pés de um viajante
Calos que desceram o Norte, até Poente
Ando pelo escuro seguindo apenas o cheiro
Do orvalho que me diz tão claramente
Que no relógio são 67 da madrugada
E penso em me esconder…
Tenho numa alma passageira
Memórias que cortam qual faca amolada
Sinto-me então, calma, conscientemente
Absorver a primeira luz que raia abrasada
Em muito tempo, são 83 da manhã
E recordo-me…
O meu lugar não é aqui…
E não dormi mais esta noite…
Pois sem que desse conta, estou já
No dia de amanhã…
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Nota: "45 da noite" é uma figura de estilo criada originalmente por António Lobo Antunes, que serve o proposito de codificar as horas, no entanto basta que se leia, 4 horas e o numero 5, que corresponde a 25 minutos para obter a hora. Os restantes numeros seguem a mesma linha de pensamento.
sábado, 17 de abril de 2010
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1 comentário:
todos os viajantantes precisam de um canto onde possam voltar ao fim de cada caminhada...
gostei**beijo
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